A construção de habilidades e competências de
leitura e escrita
No
transcorrer de nossa prática educativa, podemos verificar que as crianças
constroem hipóteses sobre como se escreve. Entretanto, é válido lembrar que
elas também possuem conhecimentos, habilidades e competências em relação ao que
pode ou não ser lido e de que forma desenvolverão essa tarefa.
No
início do processo de aquisição da linguagem escrita, é comum que as crianças
apresentem idéias que “parecem estranhas aos nossos olhos alfabetizados” (WEIZ,
2003). Isso se explica porque nossa geração foi alfabetizada através de um
processo mecânico, que não abria margem para nenhuma reflexão.
Hoje
sabemos que isso não é verdade, e que os conflitos e desafios devem existir
justamente para que o aluno possa construir suas competências leitoras, de
forma gradativa e concreta.
Avaliação diagnóstica inicial: O que os alunos já sabem sobre a escrita?
Avaliação diagnóstica inicial: O que os alunos já sabem sobre a escrita?
Uma das primeiras
atividades a serem desenvolvidas com as crianças é aquela em que o professor
avalia, de forma diagnóstica, o que elas sabem sobre o sistema alfabético de
escrita.
Essa avaliação inicial,
também conhecida como entrevista individual ou sondagem, definirá os rumos das
atividades de alfabetização, tendo em vista que cada indivíduo aprende de forma
individual e possui características e histórias de vida singulares.
A tarefa de diagnosticar
em que hipóteses de leitura os alunos se encontram, também colaboram na
elaboração de atividades alfabetizadoras que privilegiam agrupamentos
produtivos, tema que mais tarde iremos discutir.
Inicialmente, é necessário
que o professor estabeleça critérios que nortearão a aplicação da sondagem. É
importante que todos os alunos participem individualmente, com o professor
chamando um de cada vez. Para isso, os demais alunos precisam estar envolvidos
em atividades que não seja necessária a intervenção do professor, como por
exemplo, um jogo, um desenho ou a escrita de uma cantiga.
Para conhecer e
interpretar o que os alunos sabem sobre leitura, é importante relacionar tais
habilidades ao que eles sabem sobre a escrita, uma vez que ambos são
dissociáveis no processo de alfabetização.
Para que eles demonstrem
tais conhecimentos, o professor deve levá-los a desenvolver uma atividade de
escrita e leitura, com especial atenção à formulação dessa atividade.
Segundo as orientações de
Weisz (2003) esta atividade deve ser composta pela escrita e leitura de uma
lista de, no mínimo, quatro palavras, de mesmo campo semântico, ou seja, que
estejam inseridas em um mesmo contexto para que tenham um mesmo significado
para a criança.
Também deve fazer parte da
sondagem, a escrita e a leitura de uma frase final adequada ao tema da lista, onde
o professor poderá verificar se o aluno mantém a estabilidade de escrita e
leitura da mesma palavra.
A ordem das palavras ditadas
pelo professor também precisa obedecer a uma regra que auxiliará no diagnóstico
das hipóteses de escrita e leitura dos alunos. A primeira palavra a ser ditada
deve ser polissílaba, seguida de uma trissílaba, uma dissílaba e, finalmente,
uma monossílaba.
É importante que, ao
pronunciar as palavras, o professor não enfatize a divisão silábica das mesmas,
para que o aluno não entre em um conflito desnecessário nesse momento.
Um outro aspecto a ser
levado em conta, é que as palavras não possuam sílabas contíguas, isto é,
vogais repetidas na mesma palavra, como por exemplo, BANANA.
Em alguns casos, em que o
aluno apresenta hipótese de escrita silábica com valor sonoro, este poderá
recusar-se a escrevê-la, tendo em vista não aceitar a própria escrita de AAA, e
consequentemente, não irá ler AAA, pois ele sabe que são necessárias letras
diferentes para que uma palavra seja lida.
A cada palavra escrita
pelo aluno, o professor pede para que o mesmo faça a leitura do que acabou de
escrever.
É importante dizer também
que, ao término do ditado, o professor aponte a forma como o aluno leu, para
depois avaliar com mais cuidado e diagnosticar a hipótese de escrita que o
aluno apresenta nesse momento, pois devemos considerar que o aluno irá
interpretar o que ele mesmo escreveu e não um texto escrito por outra pessoa.
Esse apontamento também é chamado de “marcas de leitura”.
Vamos observar, a seguir, um
exemplo de sondagem:
palavras ditadas:
BRIGADEIRO
BEXIGA
VELA
PÃO
Frase: EU
COMI BRIGADEIRO NA FESTA.
Em azul claro estão as
marcas de leitura que o professor apontou, indicando que a criança usou duas
letras para cada pauta sonora. Na frase, a criança fez uma leitura global, ou
seja, não conseguiu identificar cada uma das palavras escritas, por isso o
professor usou uma seta.
Antes de tudo, precisamos
desmistificar esses equívocos, pois não existe aluno pré-silábico, silábico com
valor sonoro, silábico-alfabético ou alfabético. O que está sendo analisada é
sua escrita, como ele a entende e de que forma está construindo seus
conhecimentos.
Para isso, é necessário que o professor faça uma interpretação daquilo que o aluno escreveu, recorrendo a padrões comparativos aos níveis de evolução presentes no processo de aquisição do sistema alfabético de escrita.
HIPÓTESES APRESENTADAS PELOS ALUNOS DURANTE O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DO SISTEMA ALFABÉTICO DE ESCRITA
PRE-SILÁBICO
1. Pictória: a criança registra garatujas e desenhos.
2.Grafismo Primitivo:a criança registra simbolos ou letras misturadas com números.
3.Escrita sem controle de quantidade: a criança escreve ocupando toda a largura da folha ou do espaço destinado a escrita.
4.Escrita Unigráfica: a criança utiliza somente uma letra para representar a palavra.
5.Escrita Fixa : a mesma série de letras numa mesma ordem serve para diferenciar nomes.
6.Quantidade Variável – Repertório Fixo/Parcial:algumas letras aparecem na mesma ordem e lugar,outras letras de forma diferente.Varia a a quantidade de letras para cada palavra.
7.Quantidade Constante – Repertório Variável:quantidade constante para todas as escritas.Porém usa-se o recurso da diferenciação qualitativa: as letras mudam ou muda a ordem das letras.
8.Quantidade Variável- Repertório Variado:expressam máxima diferenciação controlada para diferenciar uma escrita de outra.
9.Quantidade e Repertório Variáveis-Presença de valor sonoro inicio e/ou fim : variedade na quantidade e no repertório das letras.A criança preocupa-se em utilizar letras que correspondem ao som inicial e/ou final.
EXEMPLO DE ESCRITA PRÉ-SILÁBICA:
SILÁBICO
1.Sem valor sonoro: a criança escreve uma letra para cada sílaba sem se preocupar com o valor sonoro correspondente.
2.Iniciando uma correspondência sonora: a criança escreve uma letra para cada sílaba e começa a utilizar letras que corresponde ao som da sílaba.
3.Com valor sonoro: a criança escreve uma letra para cada sílaba, utilizando letras que correspondem ao som da sílabas; às vezes usa só vogais e outras vezes consoantes e vogais.
4.Silábico em conflito ou hipótese falsa necessária: momento de conflito cognitivo relacionado a quantidade minima de letras (BIS/ISIS) e a contradição entre a interpretação silábica e as escritas alfabéticas que tem sempre mais letras.
EXEMPLO DE ESCRITA SILÁBICA SEM VALOR SONORO
EXEMPLO DE ESCRITA SILÁBICA COM VALOR SONORO
SILÁBICO-ALFABÉTICO
1.A criança escreve uma letra para representar sílaba, ora escreve a sílaba completa.Dificuldade é mais visível nas silabas complexas.
EXEMPLO DE ESCRITA SILÁBICO-ALFABÉTICA
ALFABÉTICO
A criança já compreende o sistema da escrita, faltando apenas apropriar-se das convenções ortográficas principalmente nas sílabas complexas.
EXEMPLO DE ESCRITA ALFABÉTICA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
WEISZ, Telma. In Curso Letra e Vida – Programa de Formação de Professores Alfabetizadores. Apostilas, 2001.
Agradecimentos:
Á Rejaine Silveira, professora de Educação Infantil na rede municipal de Campo Limpo Paulista, que disponibilizou o texto "HIPÓTESES APRESENTADAS PELOS ALUNOS DURANTE O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DO SISTEMA ALFABÉTICO DE ESCRITA". (título modificado).
IMAGENS:
- Arquivos pessoais
- Algumas imagens foram retiradas de:
http://adrianabrunaefram.blogspot.com.br/2010_09_29_archive.html
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