terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

8 de Março: "Dia Internacional da Mulher"









Textos informativos para o Professor

Origens do Dia Internacional da Mulher




As histórias que remetem à criação do Dia Internacional da Mulher alimentam o imaginário de que a data teria surgido a partir de um incêndio em uma fábrica têxtil de Nova York em 1911, quando cerca de 130 operárias morreram carbonizadas. Sem dúvida, o incidente ocorrido em 25 de março daquele ano marcou a trajetória das lutas feministas ao longo do século 20, mas os eventos que levaram à criação da data são bem anteriores a este acontecimento.

Desde o final do século 19, organizações femininas oriundas de movimentos operários protestavam em vários países da Europa e nos Estados Unidos. As jornadas de trabalho de aproximadamente 15 horas diárias e os salários medíocres introduzidos pela Revolução Industrial levaram as mulheres a greves para reivindicar melhores condições de trabalho e o fim do trabalho infantil, comum nas fábricas durante o período.

O primeiro Dia Nacional da Mulher foi celebrado em maio de 1908 nos Estados Unidos, quando cerca de 1500 mulheres aderiram a uma manifestação em prol da igualdade econômica e política no país. No ano seguinte, o Partido Socialista dos EUA oficializou a data como sendo 28 de fevereiro, com um protesto que reuniu mais de 3 mil pessoas no centro de Nova York e culminou, em novembro de 1909, em uma longa greve têxtil que fechou quase 500 fábricas americanas.

Em 1910, durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas na Dinamarca, uma resolução para a criação de uma data anual para a celebração dos direitos da mulher foi aprovada por mais de cem representantes de 17 países. O objetivo era honrar as lutas femininas e, assim, obter suporte para instituir o sufrágio universal em diversas nações.

Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) eclodiram ainda mais protestos em todo o mundo. Mas foi em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no calendário Juliano, adotado pela Rússia até então), quando aproximadamente 90 mil operárias manifestaram-se contra o Czar Nicolau II, as más condições de trabalho, a fome e a participação russa na guerra - em um protesto conhecido como "Pão e Paz" - que a data consagrou-se, embora tenha sido oficializada como Dia Internacional da Mulher, apenas em 1921.

Somente mais de 20 anos depois, em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU) assinou o primeiro acordo internacional que afirmava princípios de igualdade entre homens e mulheres. Nos anos 1960, o movimento feminista ganhou corpo, em 1975 comemorou-se oficialmente o Ano Internacional da Mulher e em 1977 o "8 de março" foi reconhecido oficialmente pelas Nações Unidas.

"O 8 de março deve ser visto como momento de mobilização para a conquista de direitos e para discutir as discriminações e violências morais, físicas e sexuais ainda sofridas pelas mulheres, impedindo que retrocessos ameacem o que já foi alcançado em diversos países", explica a professora Maria Célia Orlato Selem, mestre em Estudos Feministas pela Universidade de Brasília e doutoranda em História Cultural pela Universidade de Campinas (Unicamp).


No Brasil, as movimentações em prol dos direitos da mulher surgiram em meio aos grupos anarquistas do início do século 20, que buscavam, assim como nos demais países, melhores condições de trabalho e qualidade de vida. A luta feminina ganhou força com o movimento das sufragistas, nas décadas de 1920 e 30, que conseguiram o direito ao voto em 1932, na Constituição promulgada por Getúlio Vargas. A partir dos anos 1970 emergiram no país organizações que passaram a incluir na pauta das discussões a igualdade entre os gêneros, a sexualidade e a saúde da mulher. Em 1982, o feminismo passou a manter um diálogo importante com o Estado, com a criação do Conselho Estadual da Condição Feminina em São Paulo, e em 1985, com o aparecimento da primeira Delegacia Especializada da Mulher.




Planos de Aula para o Ensino Fundamental I



Em 08 de março é comemorado o Dia  da Mulher, ou Dia Internacional da Mulher, uma data que nos leva a reflexões. Sabendo disso, nada melhor do que ensinar as crianças a valorizarem o papel da mulher na sociedade e promover ideias de igualdade enquanto ainda são pequenas, uma vez que tal ação é mais eficaz do que ter de lidar com futuros adultos que possam discriminar e coibir a mulher. Portanto, executar planos de aula com essa temática nessa fase é muito pertinente.

Sendo assim, seguem os planos de aula:

O papel feminino

Esse plano de aula tem como foco ensinar ao aluno como se deu a emancipação feminina em nosso país. Historicamente falando, as mulheres apesar de muitas vezes terem direitos negados, ainda assim desempenharam papéis importantes na sociedade. Todavia, por várias ocasiões foram esquecidas ou deixadas de lado por historiadores – em sua maioria homens.
Portanto, esse plano de aula possibilita a você professor (a) mostrar como era essa realidade, assim como deixar nítido o processo de reversão da ideia de inferioridade do gênero feminino – o que obviamente é uma falácia lógica, já que ambos possuímos o mesmo “processador”, que aliás; trata-se do mais potente desse planeta… O vulgo cérebro humano!
Das finalidades:
Propiciar a identificação das lutas que buscaram o reconhecimento da igualdade entre os gêneros. Entendimento do que mudou e do que ainda continua em prática com relação ao tratamento concebido a mulher. E por fim, ensinar aos alunos sobre os confrontos das mulheres brasileiras que lutaram por igualdade na década de 1920.
Materiais necessários: uso da lousa e giz/caneta para quadro.
Duração: de duas a quatro aulas, notícias e matérias sobre a mulher.

Projeto Dia Internacional da Mulher

Tem como objetivo a valorização da mulher e de suas conquistas ao longo da história. Esse plano é desenvolvido ao longo de cinco tarefas que proporcionarão aos alunos entretenimento e aprendizado ao mesmo tempo, de modo a estimular a criatividade das crianças.

Inicialmente começa-se com um trabalho de pesquisa sobre uma mulher (pode ser familiar ou entes próximos) que deverá responder a um pequeno questionário.

A segunda tarefa é o desenvolvimento de um acróstico com a palavra “mulher”.

Na terceira tarefa os alunos devem desenvolver um poema sobre a mulher.

Agora você menciona a realização de uma pesquisa sobre a lei Maria da Penha, com o objetivo de que os alunos entendam a sua importância e porque ela foi criada.

Para finalizar há a criação de um texto sobre a mulher. Existe também a opção de confecção de cartões.
É interessante utilizar esse plano de aula, pois, ele mostra que o preconceito contra a mulher é histórico e que as mudanças e movimentos começaram a surgir à partir da Revolução Industrial, onde mulheres e crianças trabalhavam de maneira intermitente sob condições desumanas, e pior, a taxa de mortalidade era gigantesca, e a expectativa de vida muito baixa. Sem mencionar o fato de que as mulheres recebiam menos exercendo as mesmas funções que os homens – e a única razão pela qual recebiam menos era simplesmente por serem mulheres.
Materiais necessários: tesoura, papel para o formulário de pesquisa e confecção de cartões.
Duração: de duas a seis aulas.

Mulheres guerreiras – Ensino Fundamental I

É um plano de aula diferenciado e que busca quebrar o paradigma do “sexo frágil”, mostrando aos alunos casos de mulheres que lutaram e ainda lutam, literalmente falando, para a defesa de seus países e ideais. Na maior parte do tempo nós não prestamos atenção nesses fatos, porque o Brasil é uma nação em que o serviço militar não é obrigatório para as mulheres – e isso tende a gerar a equívoca ideia de que elas não são capazes de lutarem em um confronto armado em nível de guerra assim como um homem luta. Todavia, trata-se de uma falácia, já que olhando para exemplos internacionais percebemos países que utilizam mulheres das suas forças armadas em fronts de guerra.
Passo-a-passo:

Primeiramente, inicie a aula perguntando se eles conhecem alguma mulher que foi uma guerreira e/ou lutou por seu país ou alguma outra causa.

Em seguida, diga que por mais que em muitos países atualmente as mulheres não participem ativamente de confrontos militares, existem algumas exceções, entre elas as mulheres do exército de Israel.

Nesse momento passe para a turma de forma resumida essa notícia (http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2015/07/27/mulheres-se-tornam-cada-vez-mais-presentes-no-exercito-de-israel.htm), que claramente nos mostra a importância do papel das mulheres na luta contra o terrorismo e defesa da nação israelense. Há a opção de imprimir em certa quantidade e distribuir, utilizar a lousa ou explicar oralmente – ficando ao seu critério escolher qual é a melhor opção para você.

O exército dos Estados Unidos recruta mulheres, mas, recentemente ocorreu um avanço ainda maior nesse sentido: pela primeira vez na história mulheres participarão de um grupo de elite de seu exército. Elas enfrentaram treinamentos por 62 dois dias na unidade dos RANGERS, na qual comumente os candidatos passam mal, desmaiam, vomitam ou adoecem devido às condições as quais são submetidos física e psicologicamente. Você pode resumir a notícia para os anos iniciais do ensino fundamental I.


  • Nesse momento pergunte para as meninas o que elas acham da notícia, se alguma delas já sonhou em ser militar (seja na polícia ou no exército) e como elas se sentem sabendo que mulheres podem ser tão guerreiras quanto os homens. Também pergunte o que os garotos pensam. Dialogue com a classe no geral e colha opiniões dos alunos, prestando atenção na participação.

  • Para avaliação, solicite a realização de uma redação sobre a importância da contribuição das mulheres para a sociedade em todas as esferas, e como nós podemos acabar com a discriminação contra a mulher.


  • Finalize a atividade com a correção e notas das redações, observando a contundência dos argumentos apresentados com base no ano em que os alunos estejam cursando. Você pode comentar algumas das redações em sala de aula após as correções, ressaltando pontos de vista interessantes, de modo que o aluno que escreveu de maneira empática se sentirá estimulado a continuar pensando assim.
Materiais: utilização das notícias (impressão), folhas de almaço para a realização da redação.
Duração: de duas a quatro aulas.

Fonte: http://demonstre.com/dia-da-mulher-planos-de-aula-para-o-ensino-fundamental-i/

Atividades para sala de aula

Indicadas para as turmas de 3º, 4º e 5º anos.



Leituras









Fichas para Produção de Texto






Atividades de Leitura e Interpretação Textual








Atividade com a música "Maria, Maria", de Milton Nascimento


Explique aos alunos que, neste caso, o termo Maria está sendo utilizado de forma genérica para referir-se à mulher.

a ) Qual trecho da música você acha que melhor representa o respeito pelas mulheres?
Resposta esperada: “Uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta”.

b ) De que trecho da música você mais gostou? Por quê?
(Resposta Pessoal.)

c ) Escreva, no caderno, um pequeno texto sobre alguma
mulher importante em sua vida e que você acha que merece ser
homenageada.
(Resposta Pessoal.)


Atividades Integradas





Fonte: http://amigasdaedu.blogspot.com.br/2012/03/dia-internacional-da-mulher.html
Atividades de Pintura e Artesanato (Lembrancinhas)








VEJA TAMBÉM...


Dicas de Filmes e vídeos educativos


Para Professores: 

  • Histórias de mulheres marcantes (clique no link abaixo para ver as sinopses)



Para os alunos:


  • Dez filmes para as meninas "não tão princesas" (clique no link abaixo para ver as sinopses)



  • Quatorze filmes para assistir com as crianças no Dia Internacional da Mulher:





Para alunos e professores:
  • Documentário "Vida Maria" (clique no link abaixo para ser redirecionado ao vídeo)




Ou assista-o abaixo:


Síntese do filme "Vida Maria" com o "Planejamento Educacional"

"Vida Maria” é um curta-metragem em 3D, lançado no ano de 2006, produzido pelo animador gráfico Márcio Ramos.

O filme nos mostra a história da rotina da personagem “Maria José”, uma menina de cinco anos de idade que se diverte aprendendo a escrever o nome, mas que é obrigada pela mãe a abandonar os estudos e começar a cuidar dos afazeres domésticos e trabalhar na roça. Enquanto trabalha ela cresce, casa e tem filhos e depois envelhece e o ciclo continua a se reproduzir nas outras Marias suas filhas, netas e bisnetas.

São apresentadas no filme imagens que mostram uma semelhança muito grande com a realidade, traços bem parecidos com o real onde vemos crianças que tem sua infância interrompida, muitas vezes para ajudar a família a sobreviver, infância essa resumida a poucos recursos e a más condições de vida.

A Maria do filme mostra satisfação em apenas escrever seu primeiro nome, o momento em que sua mãe lhe chama a atenção dizendo: “Não perca tempo “desenhando” seu nome!”, é tirado o seu futuro de ser uma pessoa diferente de sua mãe, que não tem uma visão do futuro, querendo dar à filha a mesma criação que teve num processo de reprodução sem mudanças de suas perspectivas por comodismo.

O filme retratou como o indivíduo em formação internaliza os eventos e as experiências vividas na infância e como são determinantes para formação daquela pessoa na vida adulta. No filme a menina Maria foi arrancada do seu mundo lúdico, quando sua mãe a repreende por estar escrevendo, ela corta da vida da filha os sonhos, os objetivos de uma vida melhor.

A mãe da personagem vive aquela vida sem perspectiva por que foi isto que aprendeu e da mesma forma ensina a filha Maria e esta reproduz para seus filhos, que também foram estimulados a deixar de sonhar e de brincar. A ausência da educação nas gerações mostra como na infância é importante o lúdico e a escola.

O objetivo do filme é mostrar que essa realidade existe e que a vivenciamos no dia a dia e que devemos tentar procurar construir um futuro melhor buscando qualidade de vida e não se acomodar, mais sim refletir sobre as condições de vida que estamos construindo e que devemos provocar e forçar uma mudança de atitude denunciando a ausência de escolarização e as condições precárias de vida de várias gerações nesse nosso Brasil, principalmente no nordeste.

O filme explora as limitações e a falta de perspectiva de “Maria José” que é apenas mais uma Maria que deixou de lado os estudos e se dedicou a casa, ao marido e aos filhos, vivendo em estado de autoanulação, onde sua vontade e seus sonhos não ultrapassam a cerca da casa onde vive, é o que essas mulheres enfrentam durante toda a sua vida, se repetindo por diversas gerações. Mais que isso, “Vida Maria” ultrapassa os limites do sertão nordestino, aproxima-se também das mulheres pobres urbanas, que da mesma forma que “Maria José” vivem a mercê do marido, cuidando da casa e dos filhos.
Vida Maria revela o quanto é difícil ser protagonista da própria vida sem que haja um estímulo externo quando se trata de figuras que consideramos autoridade sobre nós, nos nossos primeiros anos de vida como nossos pais. Nas muitas discussões sobre gênero e sexualidade à mulher, principalmente nordestina, viveu e ainda vive em uma cultura alicerçada em que a mesma nasceu para cuidar da casa e dos filhos, e ao mesmo tempo surpreende a força e determinação destas mulheres que são vitoriosas.

Quantas Marias nós temos em nossas escolas, algumas no papel de mães e a maioria no papel de filhas. O filme retrata a vida de muitas Marias que ficam condicionadas, as situações às quais se acomodaram desgastadas por falta de possibilidades, sem coragem deixam seus sonhos perderem-se no tempo e acabam perdendo a oportunidade da construção do seu "eu", talvez até imposta pela própria sociedade que mantém uma hierarquia de valores que não se abre para a transformação.

O filme expressa mais que uma realidade material a sua concepção cultural, e suas crenças a partir da educação descendente. A partir dele pode-se constatar o quanto a mulher tem sido ferida em sua subjetividade, ficando notório o que vem acontecendo há séculos: preconceitos, estigma, rótulos, estereótipos, exclusão social, indiferença. Como mudar isso, esse é um grande dilema no Brasil, como alterar os valores que “funcionam” bem numa vida dura e pobre. Está na educação, talvez, mas educar o quê, Português, matemática, física, química,…? Será isso o necessário e fundamental para alteração cultural da vida de Maria? Não, isso, na verdade, passa ao longe.

Contudo, sua mensagem ficou clara de que há solução para este problema, o acesso a uma educação de qualidade e às políticas públicas. É necessária uma educação diferenciada, a questão parece óbvia, o difícil é a prática. Escolas que formem cidadãos, que desenvolvam discernimento crítico. Núcleos de discussões e estudos sobre o próprio meio de vida, onde famílias podem se compreender melhor e sejam orientadas ao planejamento familiar, ao direito das crianças e adolescentes e também sobre a situação econômica do país.

É preciso preparar o planejamento, acompanhar e revisar para que aja transformação da estrutura a partir do que existe, do possível, do oportuno, incluindo todas as possibilidades da realidade existente e da realidade desejada, para que ocorra mudança no modo de vida de sociedades que insistem em reproduzir uma estrutura na qual estão condenados ao comodismo pela relação causa-efeito, objetivando mudança de suas perspectivas de vida para que possa sanar essa reprodução de valores ultrapassados.

Esse filme é excelente para conscientizar os jovens de que eles não precisam repetir a história de seus antepassados, eles precisam renovar suas vidas. Remete-nos a pensar o que fazemos ou podemos fazer para contribuir na quebra de ciclos de "Marias" que se perpetuam pelo Brasil a fora, o país precisa de oportunidades e não de caridades.

(Gilmara Boas, para o site Portal Educação, publicado em 15/07/2013)


Fonte: 
https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/cotidiano/sintese-do-filme-vida-maria-com-o-planejamento-educacional/48818

Mais histórias (reais) de superação...



"Malala, a menina paquistanesa que desafiou o Talibã"


Malala Yousafzai (1997 - ): nasceu no Paquistão, em Mingora, cidade próxima à fronteira com o Afeganistão. É um país e especificamente uma região onde as mulheres ainda não tem vez, não podem estudar, nem trabalhar e muito menos ter vida social. Só que Malala mudou seu destino: apoiada pelo pai, educador e defensor dos direitos da mulher, sempre estudou, mesmo sob o regime terrorista vigente no país. Malala mudava o caminho para a escola todos os dias, escondia os livros sob a roupa e não usava mais o uniforme para não chamar a atenção. Em outubro de 2012, homens armados entraram no ônibus escolar onde ela viajava e atiraram em sua cabeça e a bala atravessou o pescoço, instalando-se no ombro. Os tiros também feriram outras meninas que estavam no ônibus. Malala foi levada para a Inglaterra, onde fez uma operação para reconstruir o crânio e restaurar a audição no Queen Elizabeth Hospital. Atualmente está recuperada, hoje mora com a família em Birmingham, onde estuda em um colégio só para meninas. Desde o atentado, Malala foi homenageada com diversos prêmios e é a pessoa mais jovem ganhar o Prêmio Nobel da Paz, em 2014. (Fonte: http://www.smartkids.com.br/trabalho/mulheres-na-atualidade)





Discurso de Malala Yousafzai no Prêmio Nobel da Paz
10 dezembro 2014, 4:14 pm




Bismillah hir Rahman ir rahim. Em nome de Deus, o mais misericordioso, o mais benévolo.

Excelentíssimas majestades, ilustres membros do Comitê Nobel Norueguês, queridos irmãos e irmãs, hoje é um dia de grande felicidade para mim. Aceito com humildade a escolha do Comitê Nobel em me agraciar com este precioso prêmio.

Obrigado a todos pelo apoio e amor permanentes. Sou grata pelas cartas e cartões que continuo a receber de todas as partes do mundo. Ler suas palavras amáveis e encorajadoras me fortalece e inspira.

Queria agradecer a meus pais por seu amor incondicional. Agradecer a meu pai por não cortar minhas asas e me deixar voar. Obrigado, mamãe, por me inspirar a ser paciente e falar sempre a verdade — que acreditamos vigorosamente ser a verdadeira mensagem do Islã.

Muito me orgulha ter sido a primeira pachtun, a primeira paquistanesa e a primeira adolescente a receber este prêmio. E tenho a certeza absoluta de ser também a primeira pessoa a receber um Nobel da Paz que ainda briga com seus irmãos mais novos. Eu quero que a paz se espalhe por todos os cantos, mas meus irmãos e eu ainda estamos trabalhando nisso.

Muito me honra também dividir este prêmio com Kailash Satyarthi, que vem lutando pelos direitos das crianças já há muito tempo. Na verdade, pelo dobro do tempo que já vivi. Fico feliz também por estarmos aqui reunidos demonstrando ao mundo que um indiano e uma paquistanesa podem conviver em paz e trabalhar em prol dos direitos das crianças.

Queridos irmãos e irmãs, recebi meu nome em homenagem à pachtun Joana D’Arc, Malalai de Maiwand. A palavra Malala significa “enlutada”, “triste”, mas, tentando imbuir um pouco de alegria a ela, meu avô iria sempre me chamar de “Malala — a garota mais feliz deste mundo”, e hoje estou muito feliz de estarmos aqui reunidos por uma causa importante.

Este prêmio não é só meu. É das crianças esquecidas que querem educação. É das crianças assustadas que querem a paz. É das crianças sem direito à expressão que querem mudanças.

Estou aqui para afirmar os seus direitos, dar-lhes voz… Não é hora de lamentar por elas. É hora de agir, para que seja a última vez que vejamos uma criança sem direito à educação.

Tenho percebido que as pessoas me descrevem de várias maneiras.

Algumas se referem a mim como a menina que foi baleada pelo talibã.

Outras, como a menina que lutou por seus direitos.

Outras, agora, como “a Prêmio Nobel”.

No que se refere a mim, sou apenas uma pessoa dedicada e teimosa que quer ver todas as crianças recebendo educação de qualidade, que quer a igualdade de direitos para as mulheres e que quer que haja paz em todos os cantos do mundo.

A educação é uma das bênçãos da vida — e uma de suas necessidades. Essa tem sido a minha experiência pelos dezessete anos em que vivi. Em minha casa, no vale Swat, no norte do Paquistão, eu sempre adorei a escola e aprender coisas novas. Lembro-me que quando minhas amigas e eu enfeitávamos nossas mãos com hena para as ocasiões especiais, em vez de desenhar flores e padrões nós pintávamos as mãos com fórmulas e equações matemáticas.

Tínhamos sede de educação porque o nosso futuro estava bem ali, naquela sala de aula. Nós sentávamos e líamos e aprendíamos juntas. E amávamos vestir aqueles uniformes escolares limpos e bem passados e sentar ali com grandes sonhos em nossos olhos. Queríamos que nossos pais se orgulhassem de nós e provar que poderíamos nos destacar nos estudos e realizar algo, o que algumas pessoas pensam que somente os meninos podem fazer.

Mas as coisas mudam. Quando eu tinha dez anos, Swat, que era um recanto de beleza e turismo, de repente se transformou em um lugar de terrorismo. Mais de quatrocentas escolas foram destruídas. As meninas foram impedidas de frequentar a escola. As mulheres foram açoitadas. Pessoas inocentes foram assassinadas. Todos sofremos. E os nossos belos sonhos se transformaram em pesadelos.

A educação passou de um direito a um crime.

Mas com a mudança repentina de meu mundo, minhas prioridades também se modificaram.

Eu tinha duas opções, a primeira era permanecer calada e esperar para ser assassinada. A segunda era erguer a voz e, em seguida, ser assassinada. Eu escolhi a segunda. Eu decidi erguer a voz.

Os terroristas tentaram nos deter e atacaram a mim e a minhas amigas em 9 de outubro de 2012, mas suas balas não podiam vencer.

Nós sobrevivemos. E desde aquele dia nossas vozes só fizeram se erguer mais altas.

Eu conto a minha história não porque ela seja única, mas principalmente porque não é.

Hoje, eu conto as histórias delas também. Eu trouxe comigo para Oslo algumas das minhas irmãs, que compartilham esta história, amigas do Paquistão, Nigéria e Síria. Minhas valentes irmãs, Shazia e Kainat Riaz, que também levaram tiros comigo naquele dia em Swat. Elas também passaram por esse trauma trágico. Também a minha irmã Kainat Somro, do Paquistão, que sofreu violência e abuso extremos, até mesmo seu irmão foi assassinado, mas não sucumbiu.

E há meninas comigo que eu conheci durante minha campanha do Fundo Malala, que agora são como minhas irmãs. Minha corajosa irmã Mezon, da Síria, de dezesseis anos, que atualmente vive na Jordânia, em um campo de refugiados, indo de tenda em tenda para ajudar meninas e meninos a aprender. E minha irmã Amina, do norte da Nigéria, onde o Boko Haram ameaça e rapta meninas simplesmente por elas quererem ir para a escola.

Embora na aparência eu seja uma menina, uma pessoa com um metro e cinquenta e sete de altura, contando com os saltos altos, eu não sou uma voz solitária, eu sou muitas.

Eu sou Shazia.

Eu sou Kainat Riaz.

Eu sou Kainat Somro.

Eu sou Mezon.

Eu sou Amina.

Eu sou aquelas 66 milhões de meninas que estão fora da escola.

As pessoas gostam de me perguntar por que a educação é importante, especialmente para as meninas. A minha resposta é sempre a mesma.

O que eu aprendi da leitura dos dois primeiros capítulos do Alcorão Sagrado foram as palavras Iqra, que significa “leitura”, e nun wal-qalam que significa “pela caneta”.

Assim, como eu disse no ano passado nas Nações Unidas: “Uma criança, um professor, uma caneta e um livro podem mudar o mundo.”

Hoje, em metade do mundo testemunhamos acelerado progresso, modernização e desenvolvimento. No entanto, há países onde milhões ainda sofrem dos antiquíssimos problemas da fome, da pobreza, da injustiça e de conflitos.

Na verdade, lembramos em 2014 que um século se passou desde o início da Primeira Guerra Mundial, mas ainda não aprendemos todas as lições que surgiram da perda daquelas milhões de vidas de cem anos atrás.

Ainda há conflitos em que centenas de milhares de pessoas inocentes perdem suas vidas. Muitas famílias passaram a ser refugiados na Síria, em Gaza e no Iraque. Ainda há meninas que não têm liberdade para ir à escola no norte da Nigéria. No Paquistão e no Afeganistão vemos pessoas inocentes sendo mortas em ataques suicidas e explosões de bombas.

Muitas crianças na África não têm acesso à escola por causa da pobreza.

Muitas crianças na Índia e no Paquistão são privadas de seu direito à educação por conta de tabus sociais, ou forçadas ao trabalho infantil e, no caso de meninas, a casamentos infantis.

Uma das minhas melhores amigas da escola, da mesma idade que eu, sempre foi uma menina corajosa e confiante, que sonhava um dia se tornar uma médica. Mas seu sonho continuou a ser um sonho. Aos doze anos ela foi forçada a se casar, tendo um filho logo em seguida, numa idade em que ela própria era ainda uma criança — apenas catorze anos. Eu sei que a minha amiga teria sido uma médica muito boa.

Mas ela não pôde… porque era uma menina.

Sua história é a razão pela qual eu dedico o dinheiro do Prêmio Nobel para o Fundo Malala, para ajudar a dar às meninas de toda parte uma educação de qualidade e convocar os líderes a ajudar meninas como eu, Mezun e Amina. O primeiro lugar para onde esse financiamento será aplicado é lá onde reside meu coração, para construir escolas no Paquistão — especialmente na minha terra natal de Swat e Shangla.

Na minha própria aldeia ainda não existe uma escola secundária para meninas. Eu quero construir uma, para que minhas amigas possam ter uma educação e a oportunidade que isso traz na realização de seus sonhos.

É por lá que irei começar, mas não é por lá que irei parar. Vou continuar esta luta até ver todas as crianças na escola. Eu me sinto muito mais forte depois do ataque que sofri, porque eu sei que ninguém pode me parar, ou nos parar, porque agora somos milhões, lutando juntos.

Queridos irmãos e irmãs, grandes pessoas que trouxeram mudanças, como Martin Luther King e Nelson Mandela, Madre Teresa e Aung San Suu Kyi, que passaram todos por este palco, espero que os passos que Kailash Satyarthi e eu percorremos até aqui, e que ainda daremos nessa jornada, também tragam mudança — mudança duradoura.

Minha grande esperança é que esta seja a última vez que tenhamos que lutar pela educação de nossos filhos. Queremos que todos se unam em apoio a nossa campanha para que possamos resolver isso de uma vez por todas.

Como eu disse, já demos muitos passos na direção certa. Chegou a hora de dar um salto.

Não é mais o caso de convencer os governantes do quão importante é a educação — isso eles já sabem, seus próprios filhos estão em boas escolas. A hora agora é de convocá-los a agir.

Pedimos aos líderes mundiais que se unam para fazer da educação a sua principal prioridade.

Há quinze anos, os líderes mundiais chegaram a um consenso sobre um conjunto de metas globais, os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Nos anos que se seguiram, testemunhamos alguns progressos. O número de crianças fora da escola foi reduzido à metade. No entanto, o mundo se concentrou apenas na expansão do ensino fundamental e o progresso não chegou a todos.

No próximo ano, em 2015, representantes de todo o mundo se reunirão na Organização das Nações Unidas para decidir sobre o próximo conjunto de metas, os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável. Isto irá definir a ambição do mundo para as gerações vindouras. Os líderes devem aproveitar essa oportunidade para garantir uma educação fundamental e secundária gratuita e de qualidade para cada criança.

Alguns dirão que isso é impraticável, ou muito caro, ou muito difícil. Ou mesmo impossível. Mas é hora de pensar grande.

Queridos irmãos e irmãs, o chamado mundo dos adultos pode compreender isso, mas nós, as crianças, não. Por que os países que chamamos de “fortes” são tão poderosos em criar guerras, mas tão fracos em trazer a paz? Por que fornecer armas é tão fácil, mas doar livros é tão difícil? Por que fabricar tanques é tão fácil, mas construir escolas é tão difícil?

Vivemos na era moderna, o século XXI, e passamos a acreditar que nada é impossível. Chegamos à Lua e talvez em breve pousaremos em Marte. Então, neste século, temos de insistir em que o nosso sonho de uma educação de qualidade para todos também se torne realidade.

Por isso deixem-nos levar igualdade, justiça e paz para todos. E não apenas os políticos e os líderes mundiais, todos precisamos contribuir. Eu. Vocês. É nosso dever.

Ao trabalho, então… sem esperar.

Apelo às crianças como eu a levantar-se em todo o mundo.

Queridos irmãos e irmãs, que nos tornemos a primeira geração a decidir ser a última [a ficar fora da escola].

As salas de aula vazias, as infâncias perdidas, o potencial desperdiçado — que tudo isso se encerre conosco.

Que esta seja a última vez que um menino ou uma menina desperdice sua infância em uma fábrica.

Que esta seja a última vez que uma garota seja obrigada a se casar na infância.

Que esta seja a última vez que uma criança inocente perca a vida na guerra.

Que esta seja a última vez que uma sala de aula permaneça vazia.

Que esta seja a última vez que se diga a uma menina que a educação é um crime e não um direito.

Que esta seja a última vez que uma criança permaneça fora da escola.

Que comecemos nós a encerrar essa situação.

Que sejamos nós a dar um fim a isto.

Que comecemos a construir um futuro melhor, aqui, agora.

Obrigada.



Fonte: 
http://historico.blogdacompanhia.com.br/2014/12/discurso-de-malala-yousafzai-no-premio-nobel-da-paz/



  • "História fantástica de Malala é força e limitação de documentário"

Leia o artigo do jornal Folha de São Paulo clicando no link abaixo:


  • Livro "Malala, a menina que queria ir para a escola"


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