A Menina que não Falava
Certo
dia, um rapaz viu uma rapariga muito bonita e apaixonou-se por ela. Como se
queria casar com ela, no outro dia, foi ter com os pais da rapariga para tratar
do assunto.
__
Essa nossa filha não fala. Caso consigas fazê-la falar, podes casar com ela,
responderam os pais da rapariga.
O
rapaz aproximou-se da menina e começou a fazer-lhe várias perguntas, a contar
coisas engraçadas, bem como a insultá-la, mas a miúda não chegou a rir e não
pronunciou uma só palavra. O rapaz desistiu e foi-se embora.
Após
este rapaz, seguiram-se outros pretendentes, alguns com muita fortuna mas,
ninguém conseguiu fazê-la falar.
O
último pretendente era um rapaz sujo, pobre e insignificante. Apareceu junto
dos pais da rapariga dizendo que queria casar com ela, ao que os pais
responderam:
__
Se já várias pessoas apresentáveis e com muito dinheiro não conseguiram fazê-la
falar, tu é que vais conseguir? Nem penses nisso!
O
rapaz insistiu e pediu que o deixassem tentar a sorte. Por fim, os pais
acederam.
O
rapaz pediu à rapariga para irem à sua machamba, para esta o ajudar a sachar. A
machamba estava carregada de muito milho e amendoim e o rapaz começou a
sachá-los.
Depois
de muito trabalho, a menina ao ver que o rapaz estava a acabar com os seus
produtos, perguntou-lhe:
__
O que estás a fazer?
O
rapaz começou a rir e, por fim, disse para regressarem a casa para junto dos
pais dela e acabarem de uma vez com a questão.
Quando
aí chegaram, o rapaz contou o que se tinha passado na machamba. A questão foi
discutida pelos anciãos da aldeia e organizou-se um grande casamento.
Duas Mulheres
HAVIA
DUAS MULHERES AMIGAS, uma que podia ter filhos __ e tinha muitos __ e a outra
não.
Um
dia, a mulher estéril foi a casa da amiga e convidou-a a visitá-la, dizendo:
__
Amiga, tenho muitas coisas novas em casa, venha vê-las!
__
Está bem __ concordou a outra.
De
manhã cedo, a mulher que tinha muitos filhos foi visitar a amiga. Ao chegar a
casa desta, chamou-a:
__
Amiga, minha amiga!
Trazia
consigo um pano que a mulher estéril aceitou e guardou.
As
duas amigas ficaram a conversar, tomando um chá que a dona da casa tinha
preparado para as duas. Ao acabarem o chá, a dona da casa quis, então, mostrar
à amiga as coisas que tinha comprado. Passaram para a sala e a mulher estéril
abriu uma mala mostrando à amiga roupa, brincos, prata e outras coisas de
valor.
No
final da visita, a mulher que tinha muitos filhos agradeceu, dizendo:
__
Um dia há-de ir a minha casa ver a mala que eu arranjei.
E,
um certo dia, a mulher que não tinha filhos, foi a casa da amiga. Mal a viram,
os filhos desta gritaram:
__
A sua amiga está aqui!
Agradeceram
a peneira que ela trazia na cabeça e guardaram-na. Começaram, então, a preparar
o chá.
A
mãe das crianças chamava-as uma a uma:
__
Fátima!
__
Mamã?
__
Põe o chá ao lume!
__
Mariamo!
__
Sim?
__
Vai partir lenha!
__
Anja!
__
Sim?
__
Vai ao poço
__
Muacisse!
__
Mamã?
__
Vai buscar açúcar!
__
Muhamede!
__
Sim?
__
Traz um copo!
__
Mariamo!
__
Vamos lá, despacha-te com o chá!
Assim
que o chá ficou pronto, tomaram-no e conversaram todos um pouco.
Quando
a amiga se ia embora, a mulher que tinha filhos disse:
__
Minha amiga, eu chamei-a para ver a mala que arranjei, mas a minha mala não tem
roupa nem brincos! A mala que lhe queria mostrar são os meus filhos!
A
mulher que não podia ter filhos ficou muito triste e, antes de chegar a casa,
sentiu-se muito mal, com dores de cabeça e acabou por morrer.
Comentário do narrador: coisa
não é coisa, coisa é pessoa!
CONTO POPULAR DA GUINÉ-BISSAU
A Origem do Tambor
Dizem
na Guiné que a primeira viagem à Lua foi feita pelo Macaquinho de nariz branco.
Segundo dizem, certo dia, os
macaquinhos de nariz branco resolveram fazer uma viagem à Lua a fim de traze-la
para a Terra.
Após tanto tentar subir, sem nenhum
sucesso, um deles, dizem que o menor, teve a idéia de subirem uns por cima dos
outros, até que um deles conseguiu chegar à Lua.
Porém, a pilha de macacos desmoronou e
todos caíram, menos o menor, que ficou pendurado na Lua. Esta lhe deu a mão e o
ajudou a subir.
A Lua gostou tanto dele que lhe
ofereceu, como regalo, um tamborinho.
O macaquinho foi ficando por lá, até que
começou a sentir saudades de casa e resolveu pedir à Lua que o deixasse voltar.
A lua o amarrou ao tamborinho para
descê-lo pela corda, pedindo a ele que não tocasse antes de chegar à Terra e,
assim que chegasse, tocasse bem forte para que ela cortasse o fio.
O Macaquinho foi descendo feliz da
vida, mas na metade do caminho, não resistiu e tocou o tamborinho. Ao ouvir o
som do tambor a Lua pensou que o Macaquinho houvesse chegado à Terra e cortou a
corda.
O
Macaquinho caiu e, antes de morrer, ainda pode dizer a uma moça que o
encontrou, que aquilo que ele tinha era um tamborinho, que deveria ser entregue
aos homens do seu país.
A
moça foi logo contar a todos sobre o ocorrido. Vieram pessoas de todo o país e,
naquela terra africana, ouviam-se os primeiros sons de tambor.
A Lua Feiticeira e a Filha que não sabia pilar
A
LUA TINHA UMA FILHA BRANCA e em idade de casar. Um dia apareceu-lhe em casa um
monhé pedindo a filha em
casamento. A lua perguntou-lhe:
—
Como pode ser isso, se tu és monhé? Os monhés não comem ratos nem carne de
porco e também não apreciam cerveja... Além disso, ela não sabe pilar...
O
monhé respondeu:
__
Não vejo impedimento porque, embora eu seja monhé, a menina pode continuar a
comer ratos e carne de porco e a beber cerveja... Quanto a não saber pilar,
isso também não tem importância, pois as minhas irmãs podem fazê-lo.
A
lua, então, respondeu:
__
Se é como dizes, podes levar a minha filha que, quanto ao mais, é boa rapariga.
O
monhé levou consigo a menina. Ao chegar a casa foi ter com a sua mãe e fez-lhe
saber que a menina com quem tinha casado comia ratos, carne de porco e bebia
cerveja, mas que era necessário deixá-la à-vontade naqueles hábitos.
Acrescentou também que ela não sabia pilar, mas que as suas irmãs teriam a
paciência de suprir essa falta.
Dias
depois, o monhé saiu para o mato à caça. Na sua ausência, as irmãs chamaram a
rapariga (sua cunhada) para ir pilar com elas para as pedras do rio e esta
desatou a chorar.
As
irmãs censuraram-na:
__
Então tu pões-te a chorar por te convidarmos a pilar?... Isso não está bem!
Tens de aprender porque é trabalho próprio das mulheres.
E,
sem mais conversas, pegaram-lhe na mão e conduziram-na ao lugar onde costumavam
pilar.
Quando
chegaram ao rio puseram-lhe o pilão na frente, entregaram-lhe um maço e
ordenaram que pilasse.
A
rapariga começou a pilar, mas com uma mágoa tão grande que as lágrimas não
paravam de lhe escorrer pela cara. Enquanto pilava ia-se lamentando:
__
Quando estava em casa da minha mãe não costumava pilar...
Ao
dizer estas palavras, a rapariga, sempre a pilar e juntamente com o pilão,
começou a sumir-se pelo chão abaixo, por entre as pedras que, misteriosamente,
se afastavam. E foi mergulhando, mergulhando... até desaparecer.
Ao
verem aquele estranho fenômeno, as irmãs do monhé abandonaram os pilões e foram
a correr contar à mãe o que acontecera. Esta ficou assustada com a estranha
novidade e tinha o coração apertado de receio quando chegou o monhé, seu filho.
Este,
ao ouvir o relato do que acontecera à sua mulher, ralhou com as irmãs,
censurando-as por não terem cumprido as suas ordens. Apressou-se a ir ter com a
lua, sua sogra, para lhe dar conta do desaparecimento da filha.
A
lua, muito irritada, disse:
__
A minha filha desapareceu porque não cumpriste o que prometeste. Faz como
quiseres, mas a minha filha tem de aparecer!
__
Mas como posso ir ao encontro dela se desapareceu pelo chão abaixo?
A
lua mudou, então, de aspecto e, mostrando-se conciliadora, disse:
__
Bom, vou mandar chamar alguns animais para se fazer um remédio que obrigue a
minha filha a voltar... Vai para o lugar onde desapareceu a minha filha e
espera lá por mim.
O
monhé foi-se embora e a lua chamou um criado ordenando:
__
Chama o javali, a pacala, a gazela, o búfalo e o cágado e diz-lhes que
compareçam, sem demora, nas pedras do rio onde desapareceu a minha filha.
O
criado correu a cumprir as ordens e os animais convidados apressaram-se para
chegar ao lugar indicado. A lua também para lá se dirigiu com um cesto de
alpista. Quando chegou ao rio, derramou um punhado de alpista numa pedra e
ordenou ao porco que moesse.
O
porco, enquanto moia, cantou:
__
Eu sou o javali e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som
da minha voz!
Nesse
momento ouviu-se a voz cava da menina que, debaixo do chão, respondia:
__
Não te conheço!
O
javali, despeitado, largou a pedra das mãos e afastou-se cabisbaixo.
Aproximou-se em seguida a pacala e, enquanto moia, cantou:
__
Eu sou a pacala e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som
da minha voz!
Ouviu-se
novamente a voz da menina que dizia:
__
Não te conheço!
A
gazela e o búfalo ajoelharam também junto do moinho, fazendo a sua invocação,
mas a menina deu a ambos a mesma resposta:
__
Não te conheço!
Por
último, tomou a pedra o cágado e, enquanto moía, cantou:
__
Eu sou o cágado e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som
da minha voz!
A
menina cantou, então, em voz terna e melodiosa:
__
Sim, cágado, à tua voz eu vou aparecer!...
E,
pouco a pouco, a menina começou a surgir por entre as pedras do rio, juntamente
com o pilão, mas sem pilar. Quando emergiu completamente parou e ficou
silenciosa.
Os
animais juntaram-se todos, curiosos, à volta da menina.
Então,
a lua disse:
__
Agora a minha filha já não pode continuar a ser mulher do monhé pois ele não
soube cumprir o que me prometeu. Ela será, daqui para o futuro, mulher do
cágado, pois só à sua voz é que ela tornou a aparecer.
Então
o cágado levantou a voz dizendo:
__
Estou muito feliz com a menina que acaba de me ser dada em casamento e, como
prova da minha satisfação, vou oferecer-lhe um vestido luxuoso que ela vestirá
uma só vez, pois durará até ao fim da sua vida.
E,
dizendo isto, entregou à menina uma carapaça lindamente trabalhada, igual à
sua.
Da
ligação do cágado com a filha da lua é que descendem todos os cágados do
mundo...
Estou voltando...
Um
jovem angolano caminhava solitário pela praia. Parou por alguns instantes para
agradecer aos deuses por aquele momento milagroso: o deslumbramento de sua
terra natal.
O
silêncio o fez adormecer em seu âmago, despertando inesperadamente com o bater
das ondas sobre as pedras. De repente, surgiram das matas homens estranhos e
pálidos que o agarraram e o acorrentaram. Sua coragem e o medo travaram naquele
momento uma longa batalha... Ele chamou pelos seus pais e clamou pelo seu Deus.
Mas ninguém o ouviu. Subitamente mais e mais rostos estranhos e pálidos se
uniram para rirem de sua humilhação. Vendo que não havia saída, o jovem
angolano atacou um deles, mas foi impedido por um golpe. Tudo se transformou em
trevas.
Um
balanço interminável o fez despertar dentro do estômago de uma criatura. Ainda
zonzo, ele notou a presença de guerreiros de outras tribos. Todos se
demonstraram incrédulos sobre o que estava acontecendo. Seus olhos cheios de
medo indagavam. Passos e risos de seus algozes foram ouvidos acima.
Durante
a viagem muitos guerreiros morreram, sendo seus corpos lançados ao mar. Dias
depois, já em terra firme, ele é tratado e vendido como um animal. Com o
coração cheio de “banzo” ele e outros negros foram levados para um engenho bem
longe dali. Foram recebidos pelo proprietário e pelo feitor que, com o estalar
do seu chicote não precisou expressar uma só palavra.
Um
dia, em meio ao trabalho, o jovem angolano fugiu. Mas não foi muito longe; foi
capturado por um capitão do mato. Como castigo foi levado ao tronco onde
recebeu não duas, mas cinqüenta chibatadas. Seu sangue se uniu ao solo bastardo
que não o viu nascer.
Os
anos se passaram, mas a sua sede por liberdade era insaciável. Várias vezes foi
testemunha dos maus tratos que o senhor aplicava sobre as negras, obrigando-as
a se entregarem. Quando uma recusava era imediatamente açoitada pelo seu
atrevimento. A Sinhá, desonrada, vingava-se sobre uma delas, mandando que lhe
cortassem os mamilos para que não pudesse aleitar.
O
jovem angolano não suportando mais aquilo fugiu novamente. No meio do caminho
encontrou outros negros fugidos que o conduziram ao topo de uma colina onde uma
aldeia fortificada – um quilombo – estava sendo mantida e protegida por
escravos.
Ali
ele aprendeu a manejar armas e, principalmente a ensinar as crianças o valor da
cultura africana. Também foi ali que conheceu a sua esposa, a mãe de seu filho.
Com o menino nos braços, ele o ergue diante as estrelas mostrando-o a Olorum, o
deus supremo...
Surgem
novos rostos, estranhos e pálidos, mas de coração puro, os abolicionistas. Eram
pessoas que há anos vinham lutando pelo fim do cativeiro. Suas pressões
surtiram efeito. Leis começaram a vigorar, embora lentamente, para o fim da
escravatura: A Lei Eusébio Queiroz; a do Ventre-Livre, a do Sexagenário e,
finalmente, a Lei Áurea. A juventude se foi.
O
velho angolano agora observa seus netos correndo livremente pelos campos.
Aprenderam com o pai a
zelarem pelas velhas tradições e andarem de cabeça erguida.
Um dia o velho ouviu o clamor do seu
coração: com dificuldade caminhou solitário até a praia. Olhou compenetrado
para o horizonte. Agora podia ouvir as vozes de seus pais sendo trazidas pelas
ondas do mar.
A
noite caiu cobrindo o velho angolano com o seu manto... Os tambores se
calaram... No coração do silêncio suas palavras lentamente ecoaram:
“Estou voltando... Estou voltando...”
A lenda do tamborinho
Corre entre os Bijagós, da Guiné, a lenda de que foi
o Macaquinho de nariz branco quem fez a primeira viagem à Lua. A história
começou assim:
Nas proximidades de uma aldeia,
os macaquinhos de nariz branco, certo dia, de que se haviam de lembrar? De
fazer uma viagem à Lua e trazê-la para baixo, para a Terra.
Ora numa bela manhã, depois de
terem em vão tentado encontrar um caminho por onde subir, um deles, por sinal o
mais pequeno, teve uma ideia: encavalitarem-se uns nos outros. Um agora, outro
depois, a fila foi-se erguendo ao céu e um deles acabou por tocar na Lua.
Embaixo, porém, os macacos começaram a cansar-se e a
impacientar- se. O companheiro que tocou na Lua nunca mais conseguia entrar. As
forças faltaram-lhes, ouviu-se um grito, e a coluna desmoronou-se. Um a um,
todos foram arrastados na queda e caíram no chão. Apenas um só, só um
macaquito, por sinal o mais pequeno, ficou agarrado à Lua, que o segurou pela
mão e o ajudou a subir.
A Lua olhou-o com espanto e tão
engraçadinho o achou que lhe deu de presente um tamborinho.
O Macaquinho começou a aprender a tocar no seu
tamborinho e por longos dias deixou-se ficar por ali. Mas tanto andou, tanto
passeou, tanto no tamborinho tocou, que os dias se passaram uns atrás dos
outros e o macaquinho de nariz branco começou a sentir profundas saudades da
Terra e das suas gentes. Então, foi pedir à Lua que o deixasse voltar.
— Para que queres voltar?— Tenho saudades da minha
terra, das palmeiras, das mangueiras, das acácias, dos coqueiros, das
bananeiras.
A Lua mandou-o sentar no tamborinho, amarrou-o com uma
corda e disse-lhe:
— Macaquinho de nariz branco, vou-te fazer descer,
mas toma tento no que te digo. Não toques o tamborinho antes de chegares lá
abaixo. E quando puseres os pés na Terra, tocarás então com força para eu ouvir
e cortar a corda. E assim ficarás liberto.
O Macaquinho,
muito feliz da vida, foi descendo sentado no tambor. Mas a meio da viagem, oh!,
não resistiu à tentação. E vai de leve, levezinho, de modo que a Lua não
pudesse ouvir, pôs-se a tocar o tambor tamborinho. Porém, o vento soltando
brandos rumores fazia estremecer levemente a corda. Ouviu a Lua os sons
compassados do tantã(1) e pensou:
'O Macaquinho chegou à Terra'. E
logo mandou cortar a corda.E eis o macaquinho atirado ao espaço, caindo
desamparado na ilha natal. Ia pelo caminho diante uma rapariga cantando e
meneando- -se ao ritmo de uma canção. De repente viu, com espanto, o infeliz
estendido no chão. Mas tinha os olhos muito abertos, despertos, duas brasas
produzindo luz. O tamborinho estava junto dele. E ainda pôde dizer à rapariga
que aquilo era um tambor e o entregava aos homens do seu país.
A moça, ainda não refeita da
surpresa, correu o mais velozmente que pôde a contar aos homens da sua raça o
que acabava de acontecer.Veio gente e mais gente. Espalhavam-se archotes.
Ouviam-se canções. E naquele recanto da terra africana fazia-se o primeiro
batuque(2) ao som do maravilhoso tambor.Então os homens construíram muitos
tambores e, dentro em pouco, não havia terra africana onde não houvesse esse
querido instrumento.Com ele transmitiam notícias a longas distâncias e com ele
festejavam os grandes dias da sua vida e a sua raça.
O tambor tamborinho ficou tão querido e tão
estremecido do povo africano que, em dias de tristeza ou em dias de alegria, é
ele quem melhor exprime a grandeza da sua alma."
Como surgiu a galinha d"angola
Antigamente as aves viviam felizes nos campos e florestas africanas, até que a
inveja se instalou entre elas tornando insuportável a convivência.
Nessa ocasião, quase todos os pássaros passaram a invejar a família do Melro,
que era muito bonito. O macho, com sua plumagem negra e seu bico amarelo
–alaranjado, despertava em todos a vontade de ser igual a ele. As fêmeas tinha
o dorso preto, o peito pardo-escuro, malhado de pardo-claro, e a garganta com
manchas esbranquiçadas. Elas causavam inveja maior ainda.
O Melro, vaidoso, certo de sua beleza, prometeu que se todas as aves o
obedecessem usaria seus poderes mágicos e os tornaria negros com plumagem
brilhante. Entretanto, os pássaros logo começaram a desobedecê-lo. Então ele,
furioso, jurou vingança, rogou-lhes uma praga e deu-lhes cores e aspectos
diferentes.
Para a Galinha D”Angola, disse que seria magra e sentiria fraqueza constante.
Fez com que seu corpo se tornasse pintado assim como o de um leopardo.
Dessa forma, seria devorada por aqueles felinos, que não suportariam ver outro
animal que tivesse o corpo tão belo, pintado de uma maneira semelhante ao
deles. Ela pagaria assim por sua inveja. E foi isso que aconteceu.
Desde esse dia a Galinha D”Angola, embora seja muito esperta e voe para fugir
dos caçadores, vive reclamando to fraca, to fraca. Com suas perninhas magras,
foge com seu bando assim que surge algum perigo e é muito difícil alcançá-la.
Suas penas, cinzas, brancas ou azuladas, são sempre manchadinhas de escuro
tornando as galinhas d”angola belas e cobiçadas
As duas irmãs
Há
muito tempo, duas irmãs, Omelumma e Omeluka, adoravam brincar ao ar livre, rir
e correr para todo lado. Certo dia, seus pais saíram para a feira que era um
pouco longe de casa, e recomendaram:
- Cuidado com os animais da terra e do
mar, porque muitas pessoas já foram levadas pelos monstros. Fiquem dentro de
casa e não façam muito barulho. Quando fizerem comida, acendam um fogo pequeno,
para que a fumaça não atraia os animais. E, quando secarem os grãos, façam em
silêncio, para que os monstros não ouçam.Porém - disse o pai - o mais
importante, é que não saiam para brincar com outras crianças. Fiquem dentro de
casa.
As duas concordaram com tudo. Acenaram em
despedida quando os pais se afastaram.
Ficaram dentro de casa a manhã inteira, mas conforme as horas iam passando,
aumentava a sensação de fome. Então, começaram a socar os grãos para fazer uma
papa, e aquilo virou logo uma brincadeira. Elas riam e faziam muito barulho. Aí
acenderam um grande fogo para que a comida ficasse pronta mais depressa,
esquecendo-se da advertência dos pais.
Após comer até se fartar, as duas
viram os amigos brincando no campo e foram correndo brincar com eles.
Enquanto brincavam, um rugido
imenso saiu de dentro da mata e outro veio do mar, aparecendo muitos monstros
que cercaram as crianças. Aterrorizadas, as duas correram, mas foram separadas.
Os monstros do mar carregaram Omelumma e os da terra Omeluka.
As duas pensaram> “ se tivéssemos ouvido nossos pais. Agora seremos
devoradas pelos monstros.”
Porém, eles não as devoraram, mas as
venderam como escravas em lugares muito distantes de sua terra. Omelumma foi
escolhida por um homem, que comprou-a e casou-se com ela. Omeluka, mais jovem,
não teve a mesma sorte. Foi escolhida por um homem cruel, que a comprou, mas a
fez de escrava, dando-lhe muitas tarefas dia e noite.
Passado um tempo ele vendeu-a para um
outro homem ainda pior do que ele que a maltratava ainda mais. Assim,
passaram-se muitos anos.
Enquanto isso, Omelumma vivia
confortavelmente com o marido e deu à luz seu primeiro filho, um menino. O
marido foi ao mercado para encontrar uma escrava que pudesse ajudá-la nas
tarefas com o bebê e a irmã, Omeluka, estava lá, para ser vendida.
Assim,
ele trouxe Omeluka para ser escrava da irmã, mas ela estava muito mudada,
devido aos maus tratos que sofrera e Omelumma não reconheceu-a.
Todas as manhãs, Omelumma ia
para o mercado e entregava o bebê aos cuidados da irmã, deixando também, muitas
tarefas para serem realizadas. Omeluka se desdobrava, mas era muito serviço.
Quando ia buscar água ou lenha, o bebê ficava em casa, todavia seu choro a
trazia rapidamente de volta, e assim não trazia a lenha suficiente. A irmã
quando chegava a surrava por não ter cumprido suas ordens, mas se ela deixava o
bebê chorando, os vizinhos contavam e ela apanhava do mesmo jeito.
Ela
tentou levar o bebê quando ia pegar lenha, mas não deu certo, porque não
conseguia fazer o serviço com ele no colo.
Certa tarde, o bebê só
interrompeu o choro, quando ela o colocou no colo e o embalou suavemente. Uma
vizinha aproximou-se perguntando por que ela não fazia suas tarefas. Ela ficou
com medo de ser denunciada e voltou ao trabalho. Mas o bebê começou a chorar e
ela não teve saída senão se sentar e começar a embalá-lo de novo. Não sabendo
mais o que fazer, finalmente entoou uma canção:
Shsh, shsh, bebezinho, não chore mais
Nossa mãe nos disse para não
fazer fogo grande,
Mas nós fizemos
Nossa mãe nos disse para não
fazer barulho,
Mas nós fizemos.
Nosso pai nos disse para não
brincar lá fora,
Mas nós brincamos.
Então os monstros do mato e do mar
nos levaram embora,
Para muito longe, muito longe!
E onde pode a minha irmã estar?
Muito longe, muito longe!
Shsh, shsh, bebezinho não chore
mais.
Uma velha que ouviu aquela
cantiga, lembrou-se da história que Omelumma lhe contara, há muito tempo, sobre
terem sido levadas pelos monstros do mar e da terra. Ela percebeu que a escrava
devia ser a irmã de Omelumma, há tanto tempo sumida. Correu até o mercado para
contar a novidade à Omelumma.
No dia seguinte, ela deu várias
tarefas à irmã e em seguida saiu, para o mercado. Mas voltou em segredo e viu
como a irmã corria de um lado para o outro tentando impedir o bebê de chorar
enquanto fazia seu serviço. Finalmente a irmã sentou-se e começou a cantar a
canção que a velha escutara.
Assim que Omelumma ouviu a
canção, reconheceu que era sua irmã e, chorando de dor e remorso, chegou perto
dela para pedir perdão.
As duas se abraçaram e choraram
juntas. Em seguida
Omelumma libertou a irmã, jurou nunca mais maltratar nenhum
servo e quando o marido chegou também ficou muito feliz ao saber da novidade.
Viveram depois disso, muito felizes.
"O Jabuti e o Leopardo"
O jabuti, distraído como sempre,
estava voltando apressado para casa . A noite começava a cobrir a floresta com
seu manto escuro e o melhor era apertar o passo.
De repente ...caiu numa armadilha !
Um buraco profundo coberto por folhas
de palmeiras que havia sido cavado na trilha, no meio da floresta, pelos
caçadores da aldeia para aprisionar os animais.
O jabuti, graças a seu grosso casco,
não se machucou na queda, mas...como escapulir dali ? Tinha que encontrar uma
solução antes do amanhecer se não quisesse virar sopa para os aldeões...
Estava ainda perdido em seus
pensamentos quando um leopardo caiu também na mesma armadilha !!! O jabuti deu
um pulo, fingindo ter sido incomodado em seu refúgio, e berrou para o leopardo:
"-Que é isto ? o que está fazendo
aqui ? Isto são modos de entrar em minha casa ? Não sabe pedir licença ?!"
E quanto mais gritava. E continuou...
"-Não vê por onde anda ? Não sabe
que não gosto de receber visitas a estas horas da noite? Saia já daqui ! Seu
pintado mal-educado !!!"
O leopardo bufando de raiva com tal
atrevimento, agarrou o jabuti...e com toda a força jogou-o para fora do buraco
!
O jabuti, feliz da vida, foi andando
para sua casa tranquilamente!
Há! Espantado ficou o leopardo...
O macaco e o hipopótamo
EM uma época muito antiga,
quando as bananeiras produziam poucas bananas, existiam numerosos macacos.
Havia um deles chamado Travesso, que
morava nas margens do rio.
O macaco Travesso possuía um grupo de
bananeiras que lhe proporcionavam frutos suficientes para a sua alimentação, o
que lhe trazia satisfação e orgulho porque os seus frutos eram os mais
saborosos da região.
No rio habitava o hipopótamo Ra-Ra,
que era o rei daquelas paragens.
A corpulência desse animal era notável
e tão grande a sua boca, que podia tragar seis macacos de uma só vez.Além
disso, gostava imensamente de bananas e, especialmente as da propriedade de
Travesso.
Ra-Ra resolveu roubar-lhe as bananas,
apesar de não ser um ato muito bonito para um rei.Ordenou então a todos os
papagaios que as trouxessem para a sua residência.
Entretanto, o macaco não arredava pé
do seu grupo de bananeiras, a fim de impedir que desaparecessem os seus
preciosos frutos.
Os papagaios logo encontraram este
obstáculo sério e recorreram à astúcia para cumprir as ordens do rei. Após uma
conferência de várias horas estudando diversas soluções para resolver
eficientemente o problema do roubo, concordaram em dizer ao macaco que seu irmão estava muito doente e desejava
vê-lo.
Quando Travesso recebeu a notícia, bom
irmão que era, foi depressa procurar seu irmão doente. Verificou logo que
aquilo não era verdade. Seu irmão estava gozando de boa saúde e, suspeitando
imediatamente do que se tratava, voltou a toda pressa para perto de suas
bananeiras.
Uma surpresa dolorosa o aguardava. Não
ficara nem uma banana para semente. Enquanto lamentava sua perda aproximou–se
um papagaio, dizendo-lhe:
— Oh!,irmão Travesso! Sabes que
Ra-Ra, o hipopótamo, nos obrigou a roubar-te as bananas e depois não nos quis
dar uma só!
— Ah! E’ assim? Então espera…
Irei à casa de Ra-Ra e tirar-lhe-ei as minhas bananas! — exclamou o macaco.
A serpente, que é um animal invejoso,
cheio de defeitos, dos quais o pior é o espírito de intriga, passou por ali por
acaso quando o macaco falava e, ato contínuo, foi contar tudo ao hipopótamo.
— Está bem! — disse Ra-Ra. — Em
tal caso ordeno ao Travesso que compareça aqui quanto antes.
A Serpente voltou ao lugar em que
vivia Travesso e lhe deu a ordem de Ra-Ra, de modo que o macaco se pôs a
tremer, pois, não era tão valente como as suas palavras pareciam revelar.
Era preciso obedecer e quando se
dispunha a fazer a desagradável visita ao hipopótamo, ocorreu-lhe uma idéia. Preparou
com o maior cuidado uma boa quantidade de visgo, a cola que usava para caçar
passarinhos, e untou-se com ele muito bem. Feito isto encaminhou-se para a casa
de Ra-Ra, à margem do rio.
— Disseram-me — disse-lhe o
hipopótamo, ao vê-lo — que ameaçaste de vir recobrar tuas bananas. É certo que
o disseste?
— De modo algum, senhor — respondeu
Travesso. — Tanto minhas frutas como eu mesmo, estamos à sua disposição.
— Bem, fico muito satisfeito em ouvir
estas palavras. Sem dúvida, quiseram fazer intriga e contaram-me essa mentira.
Senta-te. Porém, procura fazê-lo de frente para mim e sem tocar em nenhuma das
bananas que estão atrás de ti.
Assim fez Travesso, apoiando com força
as costas, inteiramente untadas, contra as bananas.
— Disseram-me que sabes muitas
histórias. Queres contar-me uma?
O macaco dispôs-se a satisfazer o
desejo de seu soberano e lhe contou uma história muito interessante.
Enquanto isso não se esquecia de
esfregar o corpo contra as bananas afim de que aderisse às suas costas o maior
número delas.Terminado o conto, Ra-Ra disse-lhe:
— Obrigado. Podes sair, mas toma
cuidado para saíres de frente para mim. Assim se deve fazer diante de um rei.
Nada podia favorecer melhor o macaco,
que estava com as costas cheias das bananas que a elas se haviam colado.
Quando se viu fora da casa do
hipopótamo, pôs-se a correr, ocultando-se.
Os papagaios não tardaram a descobrir
a astúcia do macaco e foram correndo contar a Ra-Ra.
O hipopótamo, ao tomar conhecimento da
notícia, teve tão grande ataque de raiva que virou de barriga para o ar,
morrendo instantaneamente.
Então, os animais reuniram-se e,
diante da inteligência do macaco, resolveram aclamá-lo soberano.
Ficou muito conhecido por sua
esperteza e deram-lhe, então, o nome de Sua Majestade Travesso I, o Esperto.
E o seu governo foi sábio e prudente,
durante anos e anos.
A onça e a raposa
A onça estava cansada de ser enganada
pela raposa, e mais irritada ainda por não conseguir pegá-la para poder fazer
um bom guisado.
Um dia
teve uma idéia: deitou-se na sua toca e fingiu-se de morta.
Quando os bichos da floresta
souberam da novidade, ficaram tão felizes, mas tão felizes que correram na toca
da onça para ver se a sua morte era mesmo verdade.
Afinal de contas, a onça era uma
bicho danado! Vivia dado sustos nos
outros animais! Por isso estavam todos
muitos felizes com a noticia de sua morte.
A raposa porém, ficou desconfiada e
como não é boba nem nada,ficou de longe, apreciando a cena. Atrás de todos os
animais, ela gritou:
_ Minha avó quando morreu, espirrou
três vezes. Quem tá morto de verdade, tem que espirrar.
A onça ouviu aquilo e para
demonstrar para todos que estava mesmo mortinha da silva, espirrou três vezes.
- É mentira gente! Ela tá viva!- Gritou a raposa
Os bichos correram assustados,
enquanto a onça levantava furiosa. A raposa fugiu rindo á beça da cara da sua
adversária. Mas a onça não desistiu de apanhar a raposa e pensou num plano.
Havia uma grande seca na floresta,
e os bichos para beber água tinham que ir num lago perto da sua toca. Então ela
resolveu ficar ali.
Deitada.Quieta.Esperando...
Espreitando a raposa dia e noite,
sem parar.
Um dia, irritada e com muita sede,
a raposa resolveu dar basta naquela situação. E também elaborou um plano. Lambuzou-se
de mel e espalhou um monte de folha seca por seu corpo cobrindo-o todo.
Chegando ao lago encontrou a onça. Sua adversária, olhou-a bem e perguntou:
_ Que bicho é você que eu não
conheço?
Cheia de astúcia, a raposa
respondeu:
_ Sou o bicho folharal!
_ Então, pode beber água.
Vendo que a raposa bebia água como
se tivesse muita sede, a onça perguntou desconfiada;
_ Está com muita sede hein!
Nisso, a água amoleceu o mel e as
folhas foram caindo do corpo da raposa.
Quando a última folha
caiu, a onça descobrindo que foi enganada,pulou sobre ela.Mas nisso, a esperta
raposa já tinha fugido rindo às gargalhadas.
O caçador furtivo
PEDRO estava almoçando em companhia de
seus pais. Prestava muita atenção à conversa dos mesmos, porque de fato era
muito interessante.
— Há muitos caçadores furtivos
nos bosques — disse o pai. — Joaquim, o guarda, diz que não sabe quem é o culpado,
mas, que todas as noites desaparecem coelhos e aves. Deve, forçosamente, ser
algum forasteiro!
— Escuta, papai — interrompeu
Pedro — Joaquim não viu o caçador furtivo?
— Sim! Julga que uma vez chegou a
vê-lo! — respondeu o pai. — É um indivíduo alto, forçudo e com barbas!
Pedro ficou muito preocupado com o
caçador furtivo e pensou que um dia Joaquim havia de surpreender o criminoso.
— Se eu tivesse uma espingarda como
Joaquim, havia de persegui-lo todas as noites, e não teria medo algum! — pensou
o menino. — Oxalá pudesse descobri-lo!
Dois dias depois, quando o sol se
punha, deu-se a casualidade de estar Pedro debruçado à janela mais alta de sua
casa. Procurava ver se descobria seu amigo Tomás, o filho do guarda, na colina
situada em frente da casa.
Enquanto olhava, seus olhos se fixaram
num indivíduo alto, que desaparecia nos bosques de seu pai.
O sol poente fez brilhar por um
instante a arma de fogo que o desconhecido levava debaixo do braço. Pedro
imediatamente se lembrou de que aquele indivíduo poderia muito bem ser o
caçador furtivo.
— Quem será esse que a estas horas se
mete nos bosques de papai? É alto e leva espingarda! Se for o caçador furtivo
que hei de fazer eu agora?
Desceu correndo e dirigiu-se a Jaime,
o cocheiro.
— Jaime, Jaime! — exclamou
arquejante. — Nos bosques está um caçador furtivo! Veja se pode apanhá-lo!
— Calma, calma, Pedrinho! —
respondeu Jaime sorrindo. — Estou vendo que queres caçoar comigo! —
acrescentou.
— Juro que é verdade, Jaime! —
exclamou o menino, agarrando-se ao braço do cocheiro. — Faz-me o favor de ir lá
antes que seja tarde e que ele mate todas as aves e todos os coelhos de papai!
— Não diga tolices! — replicou o
cocheiro. — Tenho muito o que fazer e se quiseres vai tu mesmo apanhar esse
caçador furtivo!
Pedro compreendeu que era inútil
insistir com Jaime, e, por isso, saiu a correr.
— Não há tempo de ir em busca de
mais ninguém — pensou. — E se eu mesmo fosse apanhá-lo na floresta?
Correu em direção ao bosque e, antes
mesmo de haver pensado no que faria, esbarrou com o desconhecido.
— Quem é você, menino? —
perguntou aquele.
— Pouco lhe importa saber! —
respondeu Pedro bruscamente, porque se sentia muito corajoso. — Você é um
caçador furtivo! — Joaquim já o viu uma vez. Você é alto, usa barba e traz
espingarda! E hoje voltou para caçar indevidamente nos bosques de meu pai! Faça
o favor de me acompanhar!
O desconhecido pôs-se a rir.
— E onde pretende levar-me? —
perguntou.
— Aqui perto, em casa de meu pai!
E não resista, porque papai ficará muito zangado!
— E se eu tentar fugir? —
perguntou o homem. — O que fará você?
— Seguí-lo-ei — respondeu Pedro.
— E posso afirmar-lhe que corro com muita rapidez! Além disso gritaria chamando
Joaquim, o guarda, de forma que não tardaria em ser o senhor preso. É melhor
vir comigo, porque se livrará dos ponta-pés e bordoadas que Joaquim certamente
lhe aplicaria!
— Bom! — concordou o
desconhecido. — Entrego-me e o acompanho.
Pedro o segurou pela manga do casaco
e, tirando-o do bosque, levou-o até à sua casa.
O desconhecido o seguiu docilmente,
sem intentar sequer a fuga.
Pedro se considerava muito valente.
Acabava de prender, ele sozinho, um caçador furtivo. O que iria dizer o seu pai
quando eles chegassem?
Além disso, estava muitíssimo contente
porque todos os seus colegas de escola ficariam sabendo que ele era valente e
não tinha medo de um caçador furtivo. Considerava-se um herói completo!
— Papai! Papai! — gritou ao
chegar. — Venha ver o caçador furtivo! Eu o prendi e encerrei-o no telheiro!
Tem espingarda e bolsa, que com certeza deve estar repleta de coelhos.
Papai e mamãe apressaram-se a acudir
muito surpreendidos e Pedro os conduziu ao telheiro.
— Cuidado! — disse ele ao pai. — Pode
tentar uma fuga e nos apanhar de surpresa.
Papai abriu a porta e olhou para
dentro. Deu um grito de assombro e entrou no telheiro.
— Guilherme! Querido Guilherme! —
exclamou. — De onde vens? Não esperávamos que você chegasse tão cedo!
Aquele homem de elevada estatura saiu
sorrindo e segurando no braço de papai. Pedrinho não podia compreender o que
significava aquilo. Pois não é que seu pai tratava amigavelmente aquele
desconhecido?
— Este é o teu tio Guilherme! —
disse o pai a Pedro. — Vem de caçar tigres em um país muito distante, para
passar uma temporada conosco. E você menino foi prendê-lo, confundindo-o, com
um caçador furtivo!
“Meu Deus!”
Pedro ficou vermelho como um tomate e
muito envergonhado olhou para o seu tio Guilherme!
— Sinto muito! — disse por fim. —
A verdade é que pensei mesmo que o senhor fosse um caçador furtivo!
O menino acrescentou ainda:
— Por que então, o senhor não me
disse logo que era o tio Guilherme? Teria evitado o aborrecimento de fechá-lo
no telheiro!
— Você é o menino mais valente
que tenho conhecido — respondeu o tio. — Você sozinho me apanhou e me prendeu
quando eu menos esperava! Prometo um dia levá-lo comigo, porque estou orgulhoso
de ter um sobrinho como você!
A aventura, pois, não teve
conseqüências. Papai estava muito orgulhoso de Pedro e a mesma coisa pensava a
mamãe.
Assim, portanto, Pedro não se
envergonhou quando, brincando, zombavam dele por ter encerrado o tio Guilherme
no telheiro do jardim, pensando ser um herói conforme vira no cinema.
Entretanto, no íntimo, Pedrinho estava
desgostoso. Se os seus amiguinhos viessem, a saber, do acontecido, caçoariam
dele e teria que demonstrar que não admitia brincadeiras.
Pedro e o tio Guilherme se fizeram
muito bons amigos.
Não tardaram em empreender uma viagem
muito longa, não para prender caçadores furtivos, mas, para matar tigres na
África. Lá pôde demonstrar a sua coragem não fugindo nunca aos constantes
perigos das florestas africanas.
Hoje ele tem satisfação em ter sido
valente.
A gazela e o caracol
Uma gazela encontrou um caracol e
disse-lhe:
__ Tu, caracol, és incapaz de correr,
só te arrastas pelo chão.
O caracol respondeu:
__ Vem cá no Domingo e verás!
O caracol arranjou cem papéis e em
cada folha escreveu:
“Quando vier a gazela e disser: caracol, tu respondes com estas
palavras: "Eu sou o caracol".
Dividiu os papéis pelos seus amigos caracóis dizendo-lhes:
__ Leiam estes papéis para que saibam
o que fazer quando a gazela vier.
No Domingo a gazela chegou à povoação
e encontrou o caracol. Entretanto, este pedira aos seus amigos que se
escondessem em todos os caminhos por onde ela passasse, e eles assim
fizeram.
Quando a gazela chegou, disse:
__ Vamos correr, tu e eu, e tu vais
ficar para trás!
O caracol meteu-se num arbusto,
deixando a gazela correr.
Enquanto esta corria ia chamando:
__ Caracol!
E havia sempre um caracol que
respondia:
__ Eu sou o caracol.
Mas nunca era o mesmo por causa das
folhas de papel que foram distribuídas.
A gazela, por fim, acabou por se
deitar, esgotada, morrendo com falta de ar. O caracol venceu, devido à esperteza
de ter escrito cem papéis.
O homem chamado Namarasotha
Havia um homem que se chamava
Namarasotha. Era pobre e andava sempre vestido com farrapos. Um dia foi à caça.
Ao chegar ao mato, encontrou uma impala morta. Quando se preparava para assar a
carne do animal apareceu um passarinho que lhe disse:
__ Namarasotha, não se deve comer essa
carne. Continua até mais adiante que o que é bom estará lá.
O homem deixou a carne e continuou a
caminhar. Um pouco mais adiante encontrou uma gazela morta. Tentava, novamente,
assar a carne quando surgiu um outro passarinho que lhe disse:
__ Namarasotha, não se deve comer essa
carne. Vai sempre andando que encontrarás coisa melhor do que isso.
Ele obedeceu e continuou a andar até
que viu uma casa junto ao caminho. Parou e uma mulher que estava junto da casa
chamou-o, mas ele teve medo de se aproximar pois estava muito esfarrapado.
__Chega aqui!- insistiu a mulher.
Namarasotha aproximou-se então.
__ Entra - disse ela.
Ele não queria entrar porque era
pobre. Mas a mulher insistiu e Namarasotha entrou, finalmente.
__Vai te lavar e veste estas roupas -
disse a mulher.
E ele lavou-se e vestiu as calças novas.
Em seguida, a mulher declarou:
__ A partir deste momento esta casa é
tua. Tu és o meu marido e passas a ser tu a mandar.
E Namarasotha ficou, deixando de ser
pobre.
Um certo dia havia uma festa a que
tinham de ir. Antes de partirem para a festa, a mulher disse a
Namarasotha:
__ Na festa a que vamos quando
dançares não deverás virar-te para trás.
Namarasotha concordou e lá foram os
dois. Na festa bebeu muita cerveja de farinha de mandioca e embriagou-se.
Começou a dançar ao ritmo do batuque. A
certa altura a música tornou-se tão animada que ele acabou por se virar.
E no momento em que se virou, ficou
como estava antes de chegar à casa da mulher: pobre e esfarrapado.
O rato e o caçador
Antigamente havia um caçador que usava
armadilhas, abrindo covas no chão. Ele tinha uma mulher que era cega e fizera
com ela três filhos.
Um dia, quando visitava as suas
armadilhas, encontrou-se com um leão:
__Bom dia, senhor! Que
fazes por aqui no meu território?
__ Ando a ver se as minhas armadilhas
apanharam alguma coisa -respondeu o homem.
__Tu tens de pagar um tributo, pois
esta região pertence-me. O primeiro animal que apanhares é teu e o segundo meu
e assim sucessivamente.
O homem concordou e convidou o leão a
visitar as armadilhas, uma das quais tinha uma presa ,uma gazela. Conforme o
combinado, o animal ficou para o dono das armadilhas.
Passado algum tempo, o caçador foi
visitar os seus familiares e não voltou
no mesmo dia. A mulher, necessitando de carne, resolveu ir ver se alguma das
armadilhas tinha presa. Ao tentar encontrar as armadilhas, caiu numa delas com
a criança que trazia ao colo.
O leão que estava à espreita entre os
arbustos, viu que a presa era uma pessoa e ficou à espera que o caçador viesse
para este lhe entregar o animal, conforme o contrato.
No dia seguinte, o homem chegou a sua casa e não encontrou nem a
mulher nem o filho mais novo. Resolveu, então, seguir as pegadas que a sua
mulher tinha deixado, que o guiaram até à zona das armadilhas.
Quando aí
chegou, viu que a presa do dia era a sua mulher e o filho. O leão, lá de longe,
exclamou ao ver o homem a aproximar-se:
__Bom dia amigo! Hoje é a minha vez! A
armadilha apanhou dois animais ao mesmo tempo. Já tenho os dentes afiados para
os comer!
__ Amigo leão, conversemos sentados. A
presa é a minha mulher e o meu filho.
__Não quero saber de nada. Hoje a
caçada é minha, como rei da selva e conforme o combinado, protestou o
leão.
De súbito, apareceu o rato.
__Bom dia titios! O que se passa? -
Disse o pequeno animal.
__Este homem está a recusar-se a pagar
o seu tributo em carne, segundo o combinado.
__Titio, se concordaram assim, porque
não cumpres? Pode ser a tua mulher ou o teu filho, mas deves entrega-los. Deixa
isso e vai-te embora, disse o rato ao homem.
Muito contrariado, o caçador retirou-se
do local da conversa, ficando o rato, a mulher, o filho e o leão.
__ Ouve, tio leão, nós já convencemos
o homem a dar-te as presas. Agora deves-me explicar como é que a mulher foi
apanhada. Temos que experimentar como é que esta mulher caiu na armadilha (e
levou o leão para perto de outra armadilha).
Ao fazer a experiência, o leão caiu na
armadilha.
Então, o rato salvou a mulher e o filho,
mandando-os para casa.
A mulher, vendo-se salva de perigo,
convidou o rato a ir viver para a sua casa, comendo tudo o que ela e a sua
família comiam.
Foi a partir daqui que o rato passou a
viver em casa do homem, roendo tudo quanto existe...
Os segredos da nossa casa
Certo dia, uma mulher estava na
cozinha e, ao atiçar a fogueira, deixou cair cinza em cima do seu cão.
O cão queixou-se:
__ A senhora, por favor, não me
queime!
Ela ficou muito espantada: um cão a
falar! Até parecia mentira...
Assustada, resolveu bater-lhe com o
pau com que mexia a comida. Mas o pau também falou:
__O cão não me fez mal. Não quero
bater-lhe!
A senhora já não sabia o que fazer e
resolveu contar às vizinhas o que se tinha passado com o cão e o pau.
Mas, quando ia sair de casa a porta,
com um ar zangado, avisou-a:
__Não saias daqui e pensa no que
aconteceu. Os segredos da nossa casa não devem ser espalhados pelos
vizinhos.
A senhora percebeu o conselho da
porta. Pensou que tudo começara porque tratara mal o seu cão. Então, pediu-lhe
desculpa e repartiu o almoço com ele.
Todos dependem da boca
Certo dia, a boca, com ar vaidoso,
perguntou:
__Embora o corpo seja um só, qual é o
órgão mais importante?
Os olhos responderam:
__O órgão mais importante somos nós:
observamos o que se passa e vemos as coisas.
__ Somos nós, porque ouvimos -
disseram os ouvidos.
__Estão enganados. Nós é que somos
mais importantes, porque agarramos as
coisas - disseram as mãos.
Mas o coração também tomou a
palavra:
__Então e eu? Eu é que sou importante:
faço funcionar todo o corpo!
__ E eu trago em mim os alimentos! - interveio
a barriga.
__Olha! Importante é aguentar todo o
corpo como nós, as pernas, fazemos.
Estavam nisto quando a mulher trouxe a
massa, chamando-os para comer. Então os olhos viram a massa, o coração emocionou-se,
a barriga esperou ficar farta, os ouvidos escutavam, as mãos podiam tirar
bocados, as pernas andaram... mas a boca
recusou comer. E continuou a recusar.
Por isso, todos os outros órgãos
começaram a ficar sem forças...
Então a boca voltou a perguntar:
__Afinal qual é o órgão mais
importante no corpo?
__És tu boca - responderam todos em coro. Tu és o nosso
rei!
Uma ideia muito tonta...
Um dia a hiena recebeu convite para
dois banquetes que se realizavam à mesma hora em duas povoações muito distantes
uma da outra. Em qualquer dos festins era abatido um boi, e sabe-se que hiena é
especialmente gulosa.
__Não há dúvida de que tenho de
assistir aos dois banquetes, pois não quero desconsiderar os anfitriões. Também
as oportunidades de comer carne de boi não são muitas... mas como hei-de fazer,
se as festas são em lugares tão distantes um do outro?
A hiena pensou, pensou... e, de
repente, bateu com a mão na testa.
__Descobri! Afinal é simples... -disse
ela, muito contente com a sua esperteza.
Saiu à pressa de casa. Assim que
chegou ao local donde partiam os dois caminhos que levavam aos locais das
festas, começou a andar pelo caminho que ficava do lado direito com a perna
direita e pelo caminho que ficava do lado esquerdo, com a perna esquerda.
Pensava chegar deste modo a ambas as
festas ao mesmo tempo. Mas começou a ficar admirada de lhe custar tanto
caminhar dessa maneira. E fez tanto esforço, que se sentiu dividir em duas de
alto a baixo.
Coitada, lá a levaram ao médico que a
proibiu, desde logo, de comer carne de boi durante um mês.
É muito tonta a hiena!
A hiena e o Gala-gala
A Hiena estabeleceu relações de
amizade com o Gala-Gala.
Um dia, a Hiena preparou cerveja e foi
chamar o seu amigo lagarto:
__ Vamos beber cerveja.
Foram. O Gala-Gala embriagou-se.
Perguntou à sua amiga Hiena:
__ Amiga, tu que gostas tanto de
carne, se me encontrares morto no caminho, és capaz de me comer?
__Não, isso nunca. Eu quero ser tua
amiga.
O lagarto embriagou-se muito e
despediu-se:
__ Amiga, vou para minha casa.
__Está bem.
O Gala-Gala partiu. A meio do caminho,
deitou-se a dormir. A Hiena pensou: "O meu amigo bebeu muito. É melhor ir
ver se ele chega bem a casa".
Encontrou-o no caminho, deitado.
Levantou-o:
__É sono, amigo? É embriaguez?
Segurou-o, virando-o. O lagarto calou-se,
sem respirar. A Hiena agarrou nele e atirou-o para o mato. Depois saiu do caminho,
foi ver onde é que o Gala-Gala tinha caído e encontrou-o.
__O meu amigo morreu.
Cortou lenha, fez fogo, e agarrou no
lagarto para o assar na fogueira. O Gala-Gala, sentindo o calor do fogo, bateu
com a cauda nos olhos da Hiena e subiu, depressa, para uma árvore.
A amizade entre eles acabou ali. O
Gala-Gala passou a viver nas árvores e a Hiena continuou a andar no chão, para
nunca mais se encontrarem.
Coração Sozinho
O Leão e a Leoa tiveram três filhos;
um deu a si próprio o nome de Coração-Sozinho, o outro escolheu o de
Coração-com-a-Mãe e o terceiro o de Coração-com-o-Pai.
Coração-Sozinho encontrou um porco e
apanhou-o, mas não havia quem o ajudasse porque o seu nome era
Coração-Sozinho.
Coração-com-a-Mãe encontrou um porco,
apanhou-o e sua mãe veio logo para o ajudar a matar o animal. Comeram-no
ambos.
Coração-com-o-Pai apanhou também um
porco. O pai veio logo para o ajudar. Mataram o porco e comeram-no os
dois.
Coração-Sozinho encontrou outro porco,
apanhou-o mas não o conseguia matar. Ninguém foi em seu auxílio. Coração-Sozinho
continuou nas suas caçadas, sem ajuda de ninguém. Começou a emagrecer, a
emagrecer, até que um dia morreu.
Os outros continuaram cheios de saúde
por não terem um coração sozinho.
O fim da amizade entre o corvo e o coelho
O Corvo era muito amigo do Coelho. Combinaram, um
dia, que cada um deles transportasse o companheiro às costas, indo de povoação
em povoação, para dar a conhecer às pessoas a amizade que os unia.
O Corvo começou a carregar o Coelho. Andou com ele
às costas pelas aldeias e a gente, quando o via, perguntava-lhe:
__Ó Corvo, que trazes tu aí?
__Trago um amigo meu que acaba de chegar de
Namandicha.
Passou assim com ele por muitas terras.
Chegou depois a vez de ser o Coelho a carregar com
o Corvo. Ao passar por uma aldeia, os moradores perguntaram-lhe:
__Ó Coelho, que trazes tu às costas?
__Ora, ora, trago penas, penugem e um grande bico
- respondeu, a troçar, o Coelho.
O Corvo não gostou que o companheiro o gozasse
daquela maneira, saltou logo para o chão e deixaram de ser amigos.
O cágado e o lagarto
Num ano em que havia pouca comida, o Cágado pegou
no dinheiro que tinha economizado e foi a Nanhagaia onde comprou um saco de milho.
Quando voltava para casa, viu, a certa altura, um
tronco de árvore atravessado no caminho. Como não conseguia passar por cima
dele, atirou o saco de milho para o outro lado e depois foi dar a volta.
Quando estava a dar a volta, ouviu uma voz a gritar:
__Viva, viva, tenho um saco de milho que caiu lá
de cima.
Era o Lagarto, que segurava o saco que o Cágado
tinha atirado.
O Cágado protestou:
__ Não. O saco é meu. Comprei-o agora e vou leva-lo
para casa.
O Lagarto não quis ouvir nada e levou o saco para
casa dele, dizendo:
__Eu não o roubei a ninguém. Achei-o. Vou comer o
milho porque encontrei o saco.
O Cágado ficou muito zangado mas não podia fazer
nada. Cheio de fome, no dia seguinte foi com os filhos ver se encontrava alguma
coisa para comer.
A certa altura, viram o rabo do Lagarto que saía
de dentro de um buraco, só com o rabo de fora.
O Cágado agarrou no rabo e numa faca e preparou-se
para o cortar. Depois de cortado, levou-o para casa e comeu-o com os
filhos.
O Lagarto que, entretanto tinha conseguido sair
do buraco, foi queixar-se ao responsável
da aldeia:
__O Cágado cortou-me o rabo. Mande-o chamar para
ele dizer porque é que me cortou o rabo.
O responsável convocou o Cágado e perguntou-lhe:
__É verdade que tu cortaste o rabo ao
Lagarto?
O Cágado, que era muito esperto, disse:
__ É verdade que eu encontrei um rabo perto de um
buraco e o levei para casa para comer, mas não era de ninguém. Eu não vi mais
nada senão o rabo.
__Mas o rabo era meu - gritou o Lagarto - tens de
o pagar.
O Cágado respondeu:
__Não, não pago. Eu fiz o mesmo que tu fizeste
ontem. Tu ontem encontraste o meu saco de milho e comeste-o. Eu hoje encontrei
o teu rabo e comi-o. Agora estamos
pagos.
O responsável achou que ele tinha razão e mandou-os
embora.
O caracol e a impala
Uma Impala, muito vaidosa da sua agilidade e da
rapidez com que corria, encontrou um Caracol e começou a fazer pouco dele:
__ Ó Caracol, tu não és capaz de correr. Que
vergonha, só és capaz de te arrastar pelo chão.
O Caracol, que era esperto, resolveu enganar a
Impala. Por isso desafio-a:
__ Vem cá no próximo domingo e vamos fazer uma
corrida por esta estrada, desde aqui até ao rio.
__ Uma corrida comigo? - perguntou, espantada, a
Impala. — Está bem, cá estarei.
E afastou-se a rir, pensando que o Caracol era
maluco por querer correr com ela.
O Caracol, entretanto, como tinha ido à escola e
sabia ler e escrever, escreveu uma carta a todos os caracóis amigos dele que
moravam ao longo da estrada até ao rio. Nessa carta ele dizia aos amigos para,
no domingo, estarem junto à estrada e, quando passasse a Impala, se ela
chamasse pelo Caracol, eles responderem: "Cá estou eu, o Caracol."
No domingo, a Impala encontrou-se com o Caracol e,
a rir muito, disse-lhe:
__Vamos lá então correr os dois e ver quem chega
primeiro ao rio.
O Caracol deixou-a partir a correr e escondeu-se
num arbusto. A Impala corria e, de vez em quando, gritava:
__Caracol, ó Caracol, onde é que tu estás?
E havia sempre um dos amigos do Caracol que estava
ali perto e respondia:
__Cá estou eu, o Caracol.
A Impala, que julgava ser sempre o mesmo Caracol
que ia a correr com ela, corria cada vez mais, mas havia em todos os momentos
um Caracol para responder quando ela chamava.
De tanto correr, a Impala acabou por se deitar
muito cansada e morrer com falta de ar.
O Caracol ganhou a aposta porque foi mais esperto
que a Impala e tinha ido à escola junto com os outros caracóis e todos sabiam
ler e escrever. Só assim se puderam organizar para vencer a Impala.
Fonte: Pesquisa na internet. Contos da Tradição oral africana.
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