GESTÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO
Planejamento e Elaboração do Plano de Ensino
Objetivos:
& Discutir os
conhecimentos e procedimentos necessários para analisar o Referenciais Curriculares, PCN's, livros didáticos e outros recursos pedagógicos.
& Construir,
coletivamente, os Planos de Ensino da U.E., de acordo com os diagnósticos
realizados.
Questões a
serem discutidas com os docentes, na elaboração do Plano de Ensino:
a) O que eu quero
que as crianças aprendam?
b) Que
conhecimentos prévios elas têm sobre o tema/conteúdo?
c) Como posso
organizar o trabalho de maneira a tornar o tema/conteúdo interessante para as
crianças?
d) Que
desdobramentos a atividade/sequência/projeto sugere?
&
Após as reflexões acima, dar início à elaboração do
Plano de Ensino, levando-se em conta a avaliação do Referencial Curricular para
cada ano, seus conteúdos e como serão e/ou poderão ser desenvolvidos durante o
ano letivo.
Textos que auxiliarão o professor na reflexão sobre Planejamento de Ensino:
PROGRAMA 3 – Salto
para o futuro
O Planejamento da Prática
Pedagógica (1ª parte)
Patrícia Corsino
"Pombada contava aos meninos de
Corumbá sobre achadouros. Que eram buracos que os holandeses, na fuga apressada
do Brasil, faziam nos seus quintais para esconder suas moedas de ouro (...).
Mas eu estava a pensar em achadouros de infâncias. Se a gente cavar um buraco
ao pé da goiabeira do quintal, lá estará um guri ensaiando subir na goiabeira.
Se a gente cavar um buraco ao pé do galinheiro, lá estará um guri tentando
agarrar no rabo de uma lagartixa. Sou hoje um caçador de achadouros de
infância. Vou meio dementado e enxada às costas a cavar no meu quintal
vestígios dos meninos que fomos."
Manoel de Barros
O poeta nos
instiga a procurar os achadouros de infância. Tesouros que escondem a menina ou o menino que fomos e que
permitem também olhar os meninos e as
meninas que convivem diariamente conosco. O desafio é escavar no quintal, no
pátio da escola, nos armários, nas mesas, nas caixas, nos brinquedos, nas
brincadeiras, nos programas de TV, nos livros, nos CDs ou em qualquer outro esconderijo e achar o
maior número possível de achadouros de infância para, a partir deles e com
eles, poder pensar e planejar as ações pedagógicas.
Escolhemos
esta imagem para iniciar a discussão sobre o planejamento pedagógico das
classes de Educação Infantil e das primeiras séries/anos do Ensino Fundamental
de Nove Anos, por entender que a criança é o ponto de partida do trabalho e que
a educação é uma possibilidade de ampliação das suas experiências emocional,
corporal, cognitiva, sócio-afetiva, sensorial etc.
Partimos da
compreensão de que, independentemente da idade e da origem social, étnica,
cultural ou religiosa, toda criança é sujeito ativo e nas suas interações está o tempo todo
significando e re-criando o mundo ao seu redor. No contato com a realidade, as
crianças criam sentidos singulares e a aprendizagem é justamente esta
possibilidade de atribuir sentido às suas experiências.
Nesta
perspectiva, planejar inclui escutar a criança para poder desenhar uma ação que
amplie as suas possibilidades de
produzir significados. O que implica dar espaço para as diferentes falas
e expressões da criança e, conseqüentemente,
para o imprevisível.
O planejamento:
características e dimensões
Nas últimas
décadas, os estudos e pesquisas, principalmente de Jean Piaget e de Lev
Vygostsky, têm trazido para a educação
as dimensões interativas, processuais e construtivas do desenvolvimento e da
aprendizagem da criança. Não cabe neste texto discutir estas teorias, mas
apenas apontar o quanto elas provocaram e provocam mudanças de paradigma na
forma de conceber o desenvolvimento infantil e o próprio trabalho pedagógico.
Assumir uma
proposta construtivista de educação tem várias implicações. A começar pela
compreensão de que o conhecimento é uma construção coletiva, que é na troca dos
sentidos construídos, no diálogo e na valorização das diferentes vozes que
circulam nos espaços de interação, que a aprendizagem vai se dando. Isto faz da
sala de aula um lugar de confronto de diferentes pontos de vista – das
crianças, do professor, dos livros e de outras fontes –, portanto, de troca, de produção e de apropriação de saberes.
Professores e alunos, mesmo que de lugares diferentes, participam deste
processo.
E é do lugar
de um sujeito mais experiente que o professor pode conhecer e acompanhar os
processos das crianças, perceber como cada uma está aprendendo e se
desenvolvendo. Isto direciona o foco do trabalho para a aprendizagem da criança
e instiga o professor a se questionar: como ela aprende? Quais são as suas
conquistas? Como posso organizar o trabalho para desafiá-la a ir adiante? Que
perguntas e intervenções eu preciso formular para provocar reflexões e avanços
no seu desenvolvimento? Como organizar o tempo e o espaço escolar de forma a
ampliar as possibilidades socializadoras e criativas das crianças?
Desse modo, o
planejamento passa a ter novas dimensões e características. Entre elas, podemos
destacar algumas como:
1) O inacabamento – como afirma Geraldi (2003), a
vida, concebida como acontecimento ético aberto, não comporta acabamento (p.
47). É na relação com o outro que podemos ver o que, do nosso ponto de
observação, não é possível. E é no confronto de diferentes saberes e pontos de
vista que o planejamento pode ir se completando e ganhando novos contornos.
O planejamento
não é algo solitário feito pelo professor. É uma construção que envolve a
equipe pedagógica da escola e as crianças também. Cabe ao professor prever o
que poderá ser desenvolvido, mas é na troca coletiva que ele vai se ajustando e
se aproximando dos interesses e necessidades do grupo de crianças.
2) A participação – o planejamento, quando coletivo e
participativo, descentralizado do professor, passa a ser responsabilidade de
todos, da elaboração e execução à avaliação. Envolver as crianças no
planejamento das atividades do dia-a-dia e/ou de um projeto que será
desenvolvido pela turma é importante pela possibilidade de as crianças pensarem
juntas, fazerem escolhas, negociarem pontos de vistas, anteverem o que vão
fazer etc.
Todo este
processo de participação, além de ser uma experiência coletiva interessante,
possibilita um maior envolvimento no processo e, por isso mesmo, maior
comprometimento com as propostas e com o
próprio grupo. Ao se sentirem protagonistas do processo, autorizadas a
discutir, opinar e a fazer escolhas, as crianças tornam-se co-autoras do
trabalho. Neste sentido, é importante a apresentação das atividades para as
crianças, seus objetivos didáticos, o tempo de duração, as expectativas, os
resultados e a avaliação, isto faz com que elas se situem, dando clareza ao que
terão que fazer, aos objetivos a serem alcançados, possibilitando a
organização, a gestão do tempo e a auto-avaliação – elementos básicos para a
construção da autonomia.
3) A previsibilidade e a imprevisibilidade – o que se
pode e o que não se pode antecipar em relação à aprendizagem das crianças? Quais
são os pontos (conteúdos, objetivos, processos etc.) que necessitam de
discussões em reuniões de planejamento da escola, do segmento e/ou da série?
Que objetivos precisam ser alcançados por cada grupo e por cada criança,
durante um determinado período? Que intervenções e encaminhamentos são
necessários prever para que a aprendizagem ocorra? Que ajustes o planejamento
precisa sofrer para atingir os objetivos?
Estas e outras
questões fazem parte de uma proposta pedagógica comprometida com a aprendizagem
das crianças. O planejamento é o lugar de reflexão do professor que, a partir
de suas observações e registros, prevê ações, encaminhamentos e seqüências de
atividades, organiza o tempo e o espaço, seleciona e disponibiliza materiais.
Mas, ao partilhar com o grupo o previsível, se abre ao imprevisível. Nesta
tensão entre o previsível e o imprevisível, cabe ao professor, como coordenador
e organizador do processo, ficar atento às negociações, ao que ele pode ou não
abrir mão, ao que precisa ser retomado, às necessidades do grupo e de cada
criança individualmente.
4) A continuidade e o encadeamento – o planejamento é
uma forma de organizar o tempo didático. Pode-se lidar com as rotinas escolares
preenchendo o tempo como se cada espaço e/ou áreas do conhecimento fossem
recipientes isolados entre si, ou seja, seguindo um modelo disciplinar,
fragmentado, ou pode-se também pensar o tempo e as propostas num duplo
movimento, em que se entrecruzam: o processo de interação horizontal, que
abarca a interdisciplinaridade e/ou a articulação entre as áreas, e o processo
de interação vertical, que encadeia e aprofunda processos, ampliando a possibilidade
de apropriação de conhecimentos e conceitos.
O que dá
sentido ao cotidiano das crianças é justamente a possibilidade de estabelecerem
relações, de participarem de processos que se inter-relacionam, em que uma
atividade se desdobra em outra de forma integrada. Por exemplo, a escrita, os desenhos, as
pinturas e as construções são formas de representar, de expressar e registrar
algo que se viveu, observou, sentiu.
Estes
registros, por sua vez, quando socializados e discutidos, tornam-se mais um espaço
de elaboração individual e de troca coletiva que levam a outras ampliações.
Pensar os três momentos – vivência, representação e conversa/troca – como um
todo que, por sua vez, também se inter-relaciona com outras atividades, faz muito mais sentido do que quando
trabalhados isoladamente.
O planejamento e a organização do trabalho pedagógico
Muito se tem
dito sobre a necessidade de o professor fazer registros do seu trabalho. Filmes,
fotografias, álbuns, pequenas anotações, textos dos mais diferentes estilos,
gêneros e extensão são recursos que muitos professores têm utilizado para
registrar a experiência vivida com o grupo de alunos.
O processo de
registrar, porém, mais do que uma forma de capturar o momento, funciona com um
espaço de formação e de reflexão do professor sobre o trabalho realizado. Neste
sentido, os registros, ao favorecerem o pensar sobre o que foi feito, podem ser
um importante suporte para o planejamento.
Cada professor
vai ter sua forma de registrar. Cada proposta e seu objetivo suscitam registros
diferentes e estes, por sua vez, também podem assumir diferentes funções. Assim
é que, se observarmos um caderno de uma professora, podemos encontrar pequenos
relatos, tabelas com anotações para acompanhamento de crianças em relação a uma
atividade desenvolvida, tabelas de objetivos e seus desdobramentos, código de
cores na lista de crianças, lembrando processos, lembretes, desabafos, fotos,
folhas de trabalhos com anotações, folhas com desenhos e escritas de crianças e
até mesmo longas narrativas.
Todas estas
anotações portam a dinâmica do processo pedagógico. A possibilidade de ler e de
consultar os registros permite ao professor acompanhar os processos individuais
e coletivos, dá elementos para ele se situar em relação ao que previu para a
turma e para avaliar o que foi
desenvolvido, promover reorientações, re-planejar, buscar novos procedimentos e
estratégias para alcançar um objetivo.
Com os
registros, o acompanhamento do processo é estudado pelo professor, o que
suscita questões como: o que tenho planejado tem contribuído para que as
crianças avancem em seus saberes? O que preciso saber sobre o que as crianças
sabem para reorientar o meu planejamento?
O planejamento
se vale dos registros do que foi realizado, mas ele mesmo é um registro do que
se projeta para um grupo de crianças, ao longo de um período de tempo. Desta
forma, ele se desdobra em objetivos a serem alcançados em longo, médio e curto
prazos.
Cada escola se
organiza da sua maneira, mas, geralmente, o planejamento em longo prazo costuma
ser anual. É interessante que, anualmente, a equipe da escola discuta em
conjunto os objetivos gerais a serem alcançados, em cada área do conhecimento,
por cada turma, e os possíveis projetos a serem desenvolvidos
institucionalmente.
O trabalho de
equipe permite a continuidade, a diversidade, a distribuição e a amplitude do
que será desenvolvido por cada grupo. Embora a escola possa ter um currículo já
traçado para as séries/anos, é importante se ter um panorama dos projetos,
interesses e conquistas anteriores de cada turma, para se definir os avanços e
a abrangência que serão esperados para o ano em curso. As orientações
curriculares de cada escola são referências importantes, que estruturam o
trabalho prevendo ampliações e conquistas, tecendo um fio condutor entre as
séries/anos, mas também abarcam as características anteriormente citadas,
sendo, assim, dinâmicas e flexíveis.
PROGRAMA
3 – Salto para o futuro
O Planejamento da Prática
Pedagógica (2ª parte)
Além de um
plano anual, as escolas e os professores fazem planos semestrais, bimestrais,
semanais e diários para organizar, distribuir, detalhar, desdobrar os objetivos
das áreas em médio e em curto prazo. Cada uma destas distribuições de objetivos
em períodos de tempo tem como funções a progressão e a continuidade de
propostas e, sobretudo, o aprendizado das crianças.
Elas
apresentam não apenas os conteúdos selecionados para o período, mas também
detalhamentos diferentes do fazer pedagógico. Assim é que um planejamento
semanal, por exemplo, pode prever atividades que serão desenvolvidas para o
coletivo, para um grupo específico ou para uma criança em especial, em função
do que o professor observou em relação às conquistas e apropriações das
crianças.
Afinal, a
prática é pensada a partir dos saberes das crianças e também para a ampliação
dos saberes delas. Portanto, é uma prática reflexiva, em que o professor
comprometido busca a articulação dos seus saberes para pensar a criança e
propor situações desafiadoras, criativas, abertas e capazes de desencadear os
avanços.
O compromisso
do professor com a aprendizagem é firmado na dinâmica que ele imprime no
cotidiano, quando os processos individuais e coletivos são acompanhados de
perto, quando são pensadas diferentes formas de organizar o tempo, o espaço e
os recursos para desenvolver as atividades.
O planejamento
focado na aprendizagem das crianças prevê a organização de atividades
diferenciadas – como os trabalhos diferenciados distribuídos em cantos da sala
– para atender às diferenças, prevê também algumas atividades permanentes –
como a hora do conto, o momento de jogos e brincadeira – que visam à
socialização, à apropriação de práticas pelas crianças etc.; prevê outras atividades ocasionais – como
passeios, visitas, filmes – e, ainda, atividades seqüenciadas para desencadear
processos, desenvolver projetos etc. Seja envolvendo a turma toda, pequenos
grupos, duplas de trabalho ou as crianças individualmente, as atividades são
pensadas tendo a aprendizagem como horizonte.
Neste momento
em que o Ensino Fundamental se amplia para nove anos de duração e passa a
incluir as crianças de seis anos de idade, faz-se necessário repensar as
práticas, reordenar o currículo, redistribuir os objetivos de cada área,
redesenhar os espaços e tempos escolares, rever os planejamentos para que as
crianças possam de fato ter ganhos significativos com mais um ano de
escolaridade obrigatória.
Não há dúvida
de que o planejamento da prática pedagógica é um instrumento fundamental para
se garantir uma prática reflexiva e o desenvolvimento de um trabalho
comprometido com a aprendizagem da criança, ou seja, com a sua possibilidade de
construir significados.
É pelo
comprometimento com o desenvolvimento integral da criança que se faz necessário
sair, como o poeta, de enxada às costas a cavar nos quintais da vida os
achadouros de infância, vestígios dos meninos que fomos, nos meninos e meninas
que diariamente estão conosco no cotidiano escolar.
Referências bibliográficas
BARROS. Manoel de. Memórias Inventadas: a infância.
São Paulo: Planeta, 2003.
GERALDI, João Wanderlei. A diferença identifica. A
desigualdade deforma. Percursos bakhtinianos de construção ética e estética.
Freitas, Souza e Kramer (orgs.) Ciências humanas e pesquisa: leitura de Mikail
Bakhtin. São Paulo: Cortez, 2003, p.39-56.
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